quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

DIA INTERNACIONAL DA MULHER

Não dá pra falar só de flores!

No próximo dia 8 de março vamos comemorar o Dia Internacional da Mulher, definido pela Organização das Nações Unidas (ONU), desde 1977. A data lembra um massacre de mulheres, em Nova Iorque, em 1857. Naquela ocasião, cerca de 130 mulheres, todas elas tecelãs, reivindicavam melhores condições de trabalho, redução da carga horária de 16 para 10 horas diárias, equiparação de salário com os homens etc. Além de não serem atendidas, foram trancadas dentro da fábrica e ali morreram carbonizadas, vítimas de um incêndio criminoso. Triste memória.

O Dia Internacional da Mulher nos faz pensar, poeticamente, em flores, em carinho, em amor. Mas parece que não há um saldo positivo para comemorarmos nesse dia, pois sabemos que a violência contra as mulheres continua e destrói o pouco que há. Na Amazônia, por exemplo, vivem cerca de 800 mil pessoas na condição de traficadas. Grande parte dessas pessoas são mulheres, adolescentes e jovens, com idade entre 14 e 21 anos, e vivem uma escravidão sexual. O lugar possui tal característica porque ali a pobreza é tamanha e a “mão de obra” tem um baixo custo para os exploradores.

A região Amazônica, com seus milhares de quilômetros de fronteira, tornou-se, infelizmente, um imenso corredor que propicia o tráfico de pessoas. Muitas têm como destino a Europa, onde viverão como escravas sexuais, durante a noite, e, durante o dia, tendo que trabalhar na limpeza e na organização dos estabelecimentos em que trabalham e são mantidas praticamente em regime de cárcere, sempre devendo aos patrões e sem condições de saldar a dívida.

Segundo relatório da Anistia Internacional, o tráfico de pessoas é uma das formas ilegais mais lucrativas do mundo. Estima-se um movimento de 35 bilhões de dólares anuais. As mulheres traficadas entram no país de destino com visto de turista, e a ação da exploração sexual muitas vezes é camuflada nos registros por atividades legais como o agenciamento de modelos, babás, garçonetes ou dançarinas. Uma recente novela do horário nobre de nossa TV mostrou um pouco dessa realidade.

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil - CNBB, ao eleger o tema – “Fraternidade e Tráfico Humano” como assunto da Campanha da Fraternidade-2014, compromete-se também em colocar toda a sua estrutura organizacional em prol de estudos e formulação de propostas para o Brasil avançar nacionalmente nas ações de enfrentamento ao tráfico de pessoas e da exploração sexual de crianças, adolescentes e jovens.

Concluo o meu texto evocando a figura de uma grande mulher: Maria da Penha Maia Fernandes, cearense corajosa, vítima de maus tratos do marido Marco Antônio, que a deixou paraplégica após desferir um tiro em suas costas. Maria da Penha lutou por mais de quinze anos para que a legislação brasileira fizesse uma lei especial que levasse em conta a violência contra a mulher. Foi criada, então, a lei 11.340, que entrou em vigor no dia 22/09/2006, e que leva o nome de “Lei Maria da Penha”.

Muito sangue, muita luta ainda está por vir, até que possamos dizer que “é para a liberdade que Cristo nos libertou”(Gl 5,1). As incontáveis vidas ceifadas até agora não podem ter sido em vão! Queremos poder, sim, nesse Dia Internacional da Mulher, falar de flores, de carinho, de amor, de liberdade. Chega de correntes, de dor, de desamor.

Ismar Dias de Matos, professor de Filosofia e Cultura Religiosa na PUC Minas.
E-mail: p.ismar@pucminas.br

Nenhum comentário:

Postar um comentário