quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

Saudação a Frei Luiz Antônio Pinheiro, O.S.A, no Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais – IHG-MG.

Na foto: Frei Luiz Antônio, Dom Walmor Azevedo, Frei Paulo Gabriel, Pe. Ismar.

Cumprimentos:

Exmo. Sr. Dr. Wagner Colombarolli, digníssimo presidente deste Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais;
Exmo. Sr. Dr. Aluízio Alberto da Cruz Quintão, digníssimo secretário geral desta Casa de João Pinheiro: nas pessoas de Vossas Excelências desejo cumprimentar os demais membros da mesa.
Querido Frei Luiz Antônio, gostaria de cumprimentar, neste momento solene, o seu querido pai, Sr. Antônio Pinheiro, hoje nos braços do Eterno, mas o faço assim mesmo non solum in memoriam sed et in laudam, porque, juntamente com Dona Maria de Lourdes Cantador Pinheiro, ele nos deu, pela graça do Criador e Pai, o dom de sua presença, Frei Luiz, nosso mais novo associado;

Exmo. e Revmo. Dom Walmor Oliveira de Azevedo, nosso querido Arcebispo Metropolitano; caríssimo Frei Paulo Gabriel López Blanco, teólogo e poeta de grandes profundidades, e Provincial dos Agostinianos, que nos honra com sua presença nesta casa, Templo da Cultura mineira;
Demais familiares de Frei Luiz, amigos seus, confrades, por meio de quem cumprimento as demais pessoas aqui presentes, que nos honram com suas presenças neste sábado memorável.

Senhoras e senhores:

Coube a mim a honra de saudar, em nome deste Instituto, este nosso consócio Frei Luiz Antônio, e é com alegria que cumpro tão nobre dever. Lembro-me de quando aqui fui recebido, em 29/11/2009, pelo saudoso amigo Prof. Herbert Sardinha Pinto, cuja memória impregna cada centímetro das paredes desta Casa.
Não posso deixar de agradecer, de modo especial, os meus ilustres confrades Dr. Jorge Lasmar (Cadeira 100) e Cel. Paulo Duarte (Cadeira 63), que se uniram a mim, no dia 13 de setembro passado, para conduzirmos a este sodalício o meu querido irmão presbítero Frei Luiz Antônio Pinheiro, da Ordem de Santo Agostinho, que hoje – para nossa alegria e honra – toma posse como associado efetivo, ocupando a cadeira número 9, que tem como patrono o ilustríssimo historiador marianense Diogo Luís de Almeida Pereira de Vasconcelos (1843-1927), um dos fundadores desta Casa de Cultura, que há mais de um século congrega historiadores e geógrafos, bem como pessoas que se destacam em diversos campos da cultura – Arqueologia, Estatística, Genealogia, Geologia, Heráldica, Indiologia, Medalhística, etc – e fazem dela, sem dúvida, uma destacada reserva civilizatória de nosso estado, de nosso país.

Como Diogo de Vasconcelos, seu patrono, Frei Luiz Antônio, esse paulista de Barra Bonita, nutre imenso amor pela História, sobretudo pela história da Igreja, pois seu élan de estudioso o levou a coordenar, com o professor Caio Boschi, da PUC Minas, os dois grandes volumes da História da Arquidiocese de Belo Horizonte (2013-2014), e a resenha da grande família agostiniana no Brasil. Apenas essas obras já justificariam a presença deste estudioso nesta Casa da Memória de Minas.
Falemos um pouco mais sobre nosso confrade, sem nos perdermos em detalhes cartoriais:

Bio-bibliografia mínima:

Após um intenso périplo por várias cidades do interior paulista para cursar o primário e o ginasial, o jovem Luiz Antônio, COR INQUIETUM, desejoso de ampliar os espaços em sua alma juvenil, ingressou no Seminário Santo Agostinho, em Bragança Paulista, em 1976. Após o término do Ensino Médio, veio fazer seus estudos superiores na Terra das Alterosas, e tornou-se Bacharel e Licenciado em Filosofia pela PUC Minas (1981-1983); fez o Noviciado Agostiniano no Rio de Janeiro (1984), tornando-se, depois, Bacharel em Teologia, pela Faculdade dos Jesuítas, em Belo Horizonte (1985-1988), ocasião em que elaborou um excelente trabalho de conclusão de curso – “O papel dos agostinianos no Concílio de Trento”, sob a orientação do historiador Dr. Frater Henrique Cristiano José Mattos. Foi ordenado Diácono pelo saudoso arcebispo de Belo Horizonte, Dom João Resende Costa, em 23/03/1988. O presbiterato, recebido das mãos de Dom Constatino Amstalden, foi em 22/10/1988, na cidade de Brotas – SP. Nos anos de 1994-1998, na Cidade Eterna, fez o Mestrado em Teologia e Ciências Patrísticas, no Institutum Patristicum Augustinianum, com a dissertação “Il ruolo del Verbo Creatore nelle prime opere de Agostino” (O papel do Verbo Criador nas primeiras obras de Agostinho).

Nossa Casa, como é mister a toda instituição que deseja durar por prazo indeterminado, se renova, e hoje ela respira esses ares de renovação com a presença deste historiador que ora se junta a nós, cheio de entusiasmo. Se é verdade que ele é paulista de nascimento, hoje é mais mineiro que paulista, por suas vivências entre nós; trinta e quatro anos são passados desde que aqui chegou, em 1981, para viver e se alegrar conosco. Nós o recebemos com simplicidade, mas no peito o nosso coração é solene, é quase medieval, e o recebe, Frei Luiz Antônio, como outrora a Ordem dos Cavaleiros recebia em suas hostes os seus oficiais, exaltando-os pela sua grandeza moral e destreza para os combates; assim o recebo e, creio, o recebem todos os nossos consócios, para que aqui exerça o seu ofício de historiador como arauto do bem e da luz.

Nosso novo associado é professor na PUC Minas e no Instituto Santo Tomás de Aquino (BH), onde ministra aulas de Patrística – um exímio conhecedor do pensamento de Santo Agostinho – professor de História da Teologia, História do Cristianismo – desde o período antigo ao contemporâneo; é fluente em espanhol, francês, italiano, inglês, e domina como poucos o latim e o grego.

Na Ordem de Santo Agostinho, Frei Luiz Antônio é, desde 1987, membro permanente das Comissões de História da Organización de Augustinos de Latino América (OALA) e da Federação Agostiniana Brasileira (FABRA); exerceu a função de Arquivista Vicarial (Belo Horizonte, fev de 1987 a dez 1990 // nov 1998 até o presente); Mestre de Postulantes, Prior e Mestre de Professos, Conselheiro Vicarial, Prior da Fraternidade Agostiniana, Assessor do Departamento de Pastoral do Colégio Santo Agostinho, de Belo Horizonte. Dentre muitas outras.
Na Arquidiocese de Belo Horizonte: foi Vigário Paroquial da Paróquia Cristo Redentor, no Barreiro de Cima, com várias provisões; Administrador Paroquial da Paróquia Santa Clara da Piedade, bairro Caiçara, nesta capital; Vigário Episcopal da Região Episcopal Nossa Senhora da Esperança, de 2001 a 2007; Vigário Episcopal para a Pastoral (2007-2010); Vigário Episcopal da Região Episcopal Nossa Senhora Aparecida (de 2010 a 2014); Representante da Arquidiocese de Belo Horizonte na Comissão de Ecumenismo e Diálogo Inter-religioso do Regional Leste II da CNBB (2005-2010); Atualmente é membro dos Conselhos Episcopal, Presbiteral e Pastoral da Arquidiocese de Belo Horizonte, desde 2001; moderador eclesiástico da Comunidade Católica Nova Aliança, desde 2006; é, atualmente, Vigário Paroquial na Paróquia Nossa Senhora da Consolação e Correia, bairro Santo Agostinho, onde trabalha em comunhão com seus confrades agostinianos.

Conclusão:

O senhor, Frei Luiz, por ser um homem do Evangelho, tem sempre muitas portas abertas para recebê-lo, em todos os lugares, como bem disse o Divino Mestre de Nazaré àqueles que deixariam tudo para segui-Lo (Mc 10, 29). Agora o senhor tem também, sempre aberta, a porta desta Casa de João Pinheiro para recebê-lo. Aqui o senhor estará entre amigos, entre seus pares.
Frei Luiz, sua nova casa é morada da História, essa realidade que os homens e as mulheres tecem na urdidura do tempo, pois na tela de Cronos é que costuramos aquilo que faz sentido para nossa construção vital, para a construção da história da Liberdade, como diria o filósofo Hegel; e, porque não dizer, daquilo que construímos com nossas inquietações cotidianas, à semelhança daquilo que Santo Agostinho deixou registrado nos treze capítulos de suas Confissões, esses relatos da historicidade humana em seu íntimo, em busca de sua maturidade e de seu fortalecimento.

Que o senhor produza muitos frutos entre nós, e leve para outras latitudes o nome de nossa Casa.

Seja bem vindo, Frei Luiz!

Muito obrigado.

Pe. Ismar Dias de Matos, cadeira 75 (Patrono: Dom Joaquim Silvério de Souza).

Belo Horizonte, 21 de fevereiro de 2015, Sábado depois das Cinzas.

Post Scriptum: Algumas das obras de sua autoria:

PINHEIRO, L. A. "A atualidade de Santo Agostinho: uma perspectiva teológico-pastoral". Horizonte (Belo Horizonte), v. 7, p. 115-126, 2008.

PINHEIRO, L. A. Evangelizar no espírito de Jesus: a dimensão querigmática da evangelização. Horizonte (Belo Horizonte), v. V, p. 172-181, 2007.

PINHEIRO, L. A. Signum unitatis: um aspecto essencial da doutrina eucarística de Santo Agostinho. Cadernos Patrísticos, v. I, p. 111-132, 2006.

PINHEIRO, L. A. Agostinianos: 750 anos da Grande União (1256-2006). Atualização, v. 323, p. 507-562, 2006.

PINHEIRO, L. A. Espiritualidade agostiniana. A vida no amor segundo o Dom do Espírito. Atualização, v. 298, p. 891-918, 2002.

PINHEIRO, L. A. "Cem anos de presença Agostiniana no Brasil". REB. Revista Eclesiástica Brasileira, v. 59, p. 859-877, 1999.

PINHEIRO, L. A. O compromisso ético-político em Santo Agostinho. Atualização, v. 279, p. 247-260, 1999.

PINHEIRO, L. A. A centralidade do amor na filosofia agostiniana. Atualização, v. 277, p. 49-72, 1999.


Livros publicados/organizados ou edições:


BOSCHI, C. C. (Org.); PINHEIRO, L. A. (Org.). História da Arquidiocese de Belo Horizonte. A Arquidiocese de Belo Horizonte e a evangelização. 1. ed. Belo Horizonte: PUC Minas, 2014. v. 2. 447p

BOSCHI, Caio César (Org.) ; PINHEIRO, L. A. (Org.) . História da Arquidiocese de Belo Horizonte. A Arquidiocese de Belo Horizonte e a contemporaneidade. 1. ed. Belo Horizonte: Editora PUC Minas, 2013. v. 1. 307p.

BLANCO, Paulo Gabriel López (Org.); PINHEIRO, L. A. (Org.) . Paróquia Cristo Redentor. 40 anos de presença agostiniana no Barreiro. 1. ed. Belo Horizonte: Mazza Edições, 2013. v. 1. 89p.

BLANCO, Paulo Gabriel López (Org.); PINHEIRO, L. A. (Org.) . Félix: 8 ou 80. Livre, humano, radical. 1. ed. Belo Horizonte: Mazza Edições, 2012. v. 1. 223p.


Capítulos de livros publicados:


PINHEIRO, L. A. Paróquias: espaços de evangelização. In: BOSCHI, C.C.;
PINHEIRO, L.A. (Org.). História da Arquidiocese de Belo Horizonte. A Arquidiocese e a evangelização. 1 ed. Belo Horizonte: PUC Minas, 2014, v. 2, p. 121-205.

PINHEIRO, L. A. A Igreja de Belo Horizonte na contemporaneidade: autocompreensão, dinâmicas e estruturas a serviço da evangelização. In: BOSCHI, C.C.; PINHEIRO, L.A. (Org.). História da Arquidiocese de Belo Horizonte - A Arquidiocese e a contemporaneidade. 1ed. Belo Horizonte: PUC Minas, 2013, v. 1, p. 22-93.

PINHEIRO, L. A. Os Agostinianos no Barreiro; um projeto de formação junto do povo. In: BLANCO, P.G.L.; PINHEIRO, L.A. (Org.). Paróquia Cristo Redentor. 40 anos de presença agostiniana no Barreiro. 1ed. Belo Horizonte: Mazza Edições, 2013, v. 1, p. 17-43.

PINHEIRO, L. A. Félix Valenzuela, um Agostiniano fora de série. In: BLANCO, P.G.L.; Pinheiro, L.A. (Org.). Félix: 8 ou 80. Livre, humano, radical. 1ed. Belo Horizonte: Mazza Edições, 2012, v. 1, p. 61-81.

Textos em jornais de notícias/revistas:

PINHEIRO, L. A. Primeiro homem moderno. Estado de Minas/Pensar, Belo Horizonte, p. 3 - 3, 03 set. 2014.

Apresentações de Trabalho

PINHEIRO, L. A. Mesa redonda Renovação Litúrgica a partir do Concílio Vaticano II. 2012. (Apresentação de Trabalho/Outra).

PINHEIRO, L. A. Espiritualidade e Inculturação da Ratio Institutionis O.S.A. 2006. (Apresentação de Trabalho/Conferência ou palestra).

PINHEIRO, L. A. Os fundamentos do Fato Cristão: heterodoxia e ortodoxia. 2005. (Apresentação de Trabalho/Conferência ou palestra).


Outras produções bibliográficas

SANTOS, Reinaldo Carlos dos; PINHEIRO, L. A. Prefácio. Belo Horizonte, 2012. (Prefácio, Pósfacio/Prefácio).

BLANCO, Paulo Gabriel López; PINHEIRO, L. A. Posfácio. Belo Horizonte - MG, 2012. (Prefácio, Pósfacio/Posfácio).

PINHEIRO, L. A. GASQUES, Jerônimo. Como falar de missa com o povo. Petrópolis: Vozes, 1985. 90 pp., in: Perspectiva Teológica Ano IX, 47. Belo Horizonte 1987 (Recensão).

PINHEIRO, L. A. CIMOSA, Mário. Levítico e Números (Col. Pequeno Comentário Bíblico Antigo Testamento) São Paulo: Paulinas, 1984. 187 pp. in: Perspectiva Teológica Ano XVIII, 44. Belo Horizonte 1986 (Recensão).

PINHEIRO, L. A. San Agustín y la liberación. Simposio de la OALA, Lima: CETA. Belo Horizonte: Perspectiva Teológica (p. 399-401), 1985 (Recensão).

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

Naaman e o outro leproso

Naaman era importante general da Síria; comandava o exército do rei Ben Hadad II; possuía muito poder, muitos bens, mas era doente: leproso. E não deixava de ser vaidoso. Não se afastara das tarefas, pois sua doença era quase imperceptível ainda. Sua criada – uma mocinha judaica, escravizada, de quem não sabemos o nome – disse a seu amo que o Deus de Israel poderia curá-lo, desde que fosse ao profeta Eliseu, na Samaria. E o general foi. Levou cartas de recomendação do rei, levou muito dinheiro e muitas roupas vistosas... O profeta não o recebeu, mandou um secretário em seu lugar, com a ordem: que Naaman fosse se banhar no Jordão, mergulhar sete vezes, e estaria curado. O militar ficou irado com o profeta. Certamente esperava um grande espetáculo.

Um subalterno do general conseguiu convencê-lo a cumprir a ordem do profeta Eliseu. Com jeito e sabedoria - sem dizer estas palavras -, disse a seu chefe que não adiantava sustentar a arrogância e voltar pra casa com a lepra; era preciso descer do salto alto, pois Deus não beneficia os orgulhosos. Naaman, então, obedeceu e foi curado. Sem espetacularização. Tudo simples, como uma flor brotando sem alardes (2 Rs 5, 9-14).

O evangelho (Mc 1, 40-45) nos apresenta um leproso sem nome, que se ajoelha aos pés de Jesus e lhe diz: “Senhor, se queres, tens o poder de curar-me”. Sua doença é a mesma do general sírio, mas sua atitude é bem diferente. Abatido pela doença, marginalizado socialmente, ele se abaixa ainda mais – ajoelha-se aos pés do Nazareno. E recebe a cura! E se ergue renovado. Transbordando de contentamento, ele espalha aos quatro cantos que fora curado por Jesus, embora o Mestre tivesse pedido para que isso não fosse dito.

Nossa doença pode, muitas vezes, se manifestar como a arrogância de Naaman, que ficou indignado por não ser recebido pelo profeta. Julgamo-nos importantes demais, muito mais do que realmente somos. E as graças de Deus passam por nós, sem que as notemos, pois não olhamos para baixo, ou para os lados. Poderíamos aprender a lição de humildade com o leproso mencionado no evangelho, pois só os humildes receberão as graças divinas.

Ismar Dias de Matos, Presbítero da Diocese de Guanhães, Professor de Filosofia e Cultura Religiosa na PUC Minas. E-mail: idmatos@folha.com.br