segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Tipo assim, Vei!

Ao ouvir uns jovens conversando e se tratando de “Vei”, indistintamente se era homem ou mulher, pensei que o tal vocativo pode ser considerado um termo universal, como iria Aristóteles. Alguns também se tratam por “Zé”.É a única qualidade boa que vejo – a universalização do termo.
As formas de tratamento “Vei” e “Zé” não fazem acepção de gênero ou de idade, tudo se enquadra neles. Para os jovens, não são termos desrespeitosos. Eles os dizem “de boa”. Revelam que a linguagem está viva, simplificada e,talvez, empobrecida.
Há uma dificuldade para essa juventude elaborar conceitos bem formulados,sem que seja necessário completar o pensamento com muita gesticulação e frases como - “tipo assim”, “por exemplo”, “sei lá, entende?”. Acredito que um vocabulário usual que se paute apenas em pouquíssimos vocábulos acaba por reduzir o pensamento a pequenos movimentos vitais.
Mas nem toda a juventude é assim. Graças a Deus, há aqueles(as) que possuem uma linguagem mais elaborada, sem cair no pedantismo jurássico e conservador. Há muitíssimos jovens empenhados em longas horas de estudo,de leitura, de aprendizado sério para a vida.(Prof.Ismar Dias de Matos, Puc-Minas)

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Pensar é avançar em direção das águas mais profundas

O verbo pensar deriva de pensum, que significa peso, em latim. É por isso que o ato de pensar nos cansa, pois lidamos com pesos. Gastamos muita energia, muitas calorias, ao exercitarmos o pensamento. Pensar também é dificultoso, não é algo simples e fácil. Talvez seja por isso que o mestre Rodin fez o seu Pensador em posição incômoda, a mão apoiando o queixo, e o cotovelo direito apoiado no joelho esquerdo. Experimente ficar nessa posição.
Pensar pode começar com um exercício de memória, mas não é apenas revirar o pensado, o instituído, o comum; não se trata de repetir o que já é; o ato de pensar traz o inaugural, o novo, o revolucionário, por isso é difícil.
Pensar algo diferente daquilo que aí está é como nadar contra a correnteza, é como procurar cabelo em ovo; é como tirar leite de pedras.
Talvez haja alguns exercícios que possamos fazer para aprendermos a pensar. Poderemos, por exemplo, começar a pentear o cabelo ou escovar os dentes com a mão esquerda, caso sejamos destros; tentar ir aos lugares usando outros caminhos nunca percorridos; singrar os “mares nunca dantes navegados”; ousar experimentar novos sabores, novos perfumes. Que outras atitudes podem ser tomadas.
Na adolescência, tive um professor de matemática, Francisco de Assis, que modificava diariamente a posição dos ponteiros de seu relógio de pulso, de modo que nunca sabíamos a hora quando olhássemos o relógio dele. Ele dizia que fazia aquilo para exercitar a memória e o pensamento quando olhasse as horas, pois era preciso fazer contas mentalmente, aumentando, por exemplo, cinqüenta e dois minutos, ou diminuindo uma hora e dezessete minutos. Professor Francisco nos ensinava diferentes modos de resolver um exercício, muitos deles inventados por ele.
Meu professor de filosofia, padre Celso de Carvalho, abotoava seu jaleco, em dias pares, com botões em número ímpar, e vice-versa. Também nunca voltava de um lugar passando pelo mesmo lado da rua. Foi com esse professor que aprendi a ousadia de avançar para águas sempre mais profundas. (Ismar Dias de Matos, PUC Minas)

Caiu a ficha

Muita gente que usa a expressão “caiu a ficha” nunca usou uma ficha telefônica, talvez nem a conheça. A ficha, indispensável no uso dos terminais de telefone público, era algo parecido com uma moeda de 25 centavos, com um friso no meio de uma das faces; na outra face constava o nome da operadora. A ficha era usada para pagar as ligações. Assim que a ligação telefônica se completava, a ficha caía, e continuava caindo à medida que durava a ligação. Continuamos usando a expressão “caiu a ficha” embora estejamos na época dos cartões telefônicos e dos chips.
Sou do tempo anterior à ficha, em que as ligações interurbanas só eram completadas com o auxílio de um(a) telefonista. Telefonávamos para ele(a) e lhe dávamos o número de telefone com o qual desejávamos falar. Ele(a), então, fazia a mediação entre nós e nosso interlocutor.
Em 1984 passei a Semana Santa em uma pequena cidade próxima de Diamantina, depois de Mendanha e de Couto Magalhães. Ali presenciei algo que nunca vi em lugar nenhum. Só havia telefone em um local: era o posto telefônico. Quando alguém recebia uma ligação, seu nome era anunciado várias vezes em um alto-falante colocado na parte mais alta da cidade. A pessoa, então, ouvindo seu nome, dirigia-se até o posto telefônico, onde, daí a alguns minutos atenderia à chamada. Eu não conhecia ninguém no lugar, mas lembro-me muito bem do nome do pároco sendo anunciado várias vezes ao dia: “Pa-dre Ni-lo, te-le-fone”. E o padre certamente se dirigia ao posto telefônico para atender a mais uma ligação. Ninguém imaginava que os telefones celulares existiriam.(Ismar Dias de Matos, professor de filosofia e cultura religiosa na PUC Minas).