sábado, 25 de agosto de 2007

Crônica inspirada em notícia de jornal

Antes de se atirar na Lagoa Rodrigo de Freitas e morrer afogado, João Gostoso quis afogar sua tresloucada vida nos copos de conhaque do Bar Vinte de Novembro. Queria submergir em cada copo os infinitos disfarces que teve em sua vida de amante no morro da Babilônia, num barracão sem número, em cujo, teto, à noite, viu-se um céu estrelado a contemplar as taras daquele carregador de feira livre.
Quando ele era um rei, as rainhas e princesas tinham que submeter-se aos seus caprichos mais perversos. João Gostoso fora abade e bispo, conde e cadete, dramaturgo e embaixador, feiticeiro e gigolô, hoteleiro e imperador... até o dia em que a mulata Jandira negou-se a ser Penélope e o chamou sem querer pelo nome de guerra. Foi o que ela contou ao delegado antes de morrer de inocência e hemorragia ao não reconhecer Ulisses diante de si.

Ismar Dias de Matos
www.ismardiasdematos.com.br

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