Dia 20 de julho de 2009 comemoramos o sesquicentenário de nascimento de Dom Joaquim Silvério de Souza, patrono da cadeira 75 no Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais. Dom Joaquim nasceu na Fazenda das Peneiras, perto de São Miguel do Piracicaba, hoje Rio Piracicaba, comarca de Santa Bárbara, em 20 de julho de 1859, filho de Antônio de Souza Monteiro e de Ana Felícia Policena de Magalhães. Esse ilustre mineiro nasceu no ano em que morreu o Santo Cura d’Ars, São João Maria Vianney, patrono dos párocos, cujo centenário de falecimento celebramos dia 04 de agosto de 2009.
Seminarista e padre
Aos 13 anos ingressou no Seminário de Mariana, sob a direção dos padres da Congregação da Missão, conhecidos como Lazaristas. Depois foi para o Seminário Maior do Caraça. Em 1881, quando o Imperador Dom Pedro II visitou aquele famoso educandário, o jovem estudante de Teologia Joaquim Silvério foi escolhido para falar, em nome do corpo discente, ao ilustre visitante. Com 23 anos incompletos foi ordenado presbítero em 04 de março de 1882, por Dom Antônio Correia de Sá e Benevides, bispo de Mariana. Após a ordenação presbiteral, além de ser professor de Latim, Português e História no Seminário do Caraça, foi Vigário de Inficcionado, atual Santa Rita Durão, e Capelão do Recolhimento das Freiras de Macaúbas. Além destes encargos, não deixou de cultivar as letras, colaborando em jornais católicos, como “O Apóstolo” e “Minas Gerais”. Escreveu, ainda como padre, os livros Sítios e personagens (1ª edição em 1896; 2ª ed. 1930) e O lar católico (1900).
O primeiro biógrafo de Dom Joaquim, o então seminarista Celso de Carvalho, enumera e comenta, além das já citadas, outras obras que escritas por Dom Joaquim: Aos meus seminaristas, Vida de Dom Silvério Gomes Pimenta, Finezas de mãe e obrigações de filho, Abreviado despertador dos deveres sacerdotais, Educação na escola, e 16 Cartas Pastorais, destacando-se a primeira delas, que foi a Pastoral de saudação cujo título é “Do apostolado católico” (1905), a “Pastoral sobre o Jubileu Constantiniano”, em 1913, e “Do ensino e exemplo de São Francisco de Sales”, 1923 (Cf. CARVALHO, Celso de. Dom Joaquim: primeiro arcebispo de Diamantina, Petrópolis: Ed. Vozes, 1935, p. 117-161).
Bispo, escritor e pastor
Em 16 de janeiro de 1902, com 42 anos, foi eleito bispo titular de Bagis e coadjutor de Dom João Antônio dos Santos, primeiro bispo de Diamantina, em Minas Gerais. Em 02 de fevereiro foi sagrado bispo por Dom Silvério Gomes Pimenta, que teve como consagrantes Dom João Batista Correia Nery, Bispo de Pouso Alegre, e Dom Fernando de Souza Monteiro, Bispo do Espírito Santo. Em 05 de maio de 1905 Dom Joaquim assumiu o pastoreio da Diocese de Diamantina. Segundo Dom Carlos Carmelo de Vasconcelos Motta (1890-1982), que fora seu bispo auxiliar, as atividades episcopais de Dom Joaquim pareciam seguir uma trilogia capital: Clero, Imprensa e Educação, como se pode ver.
Fundou o semanário A ESTRELA POLAR em 01/01/1903, para ser o informativo da Diocese. Noticioso e doutrinal, mas também literário, o jornal tinha como lema: ITER PRAEBENS TUTUM (mostrando o caminho certo), e estava sob os cuidados do Cônego Severiano de Campos Rocha. O jornal circula até os dias de hoje. Fundou a Associação de São José, para manter a obra das vocações sacerdotais; Em 1912 fundou o “Boletim Eclesiástico”, órgão da Cúria diocesana, destinado a ser o traço de união e um instrutor do clero. Em 1927 abençoou a recém-fundada “A Messe”, revista da Obra das Vocações Sacerdotais. Criou escolas normais em Itambacuri, Conceição do Mato Dentro, Curvelo e Diamantina. Criou em todas as paróquias da Arquidiocese a Confraria da Doutrina Cristã. (Cf. INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DE MINAS GERAIS, Revista, v. VI: Centenário do nascimento de Dom Joaquim Silvério de Souza, p. 131-141)
Grande conhecedor dos escritos de Dom Joaquim, o saudoso arcebispo Dom José Pedro Costa viu em seus escritos uma segunda trilogia: EUCARISTIA, NOSSA SENHORA e o PAPA (Cf. COSTA, Dom José Pedro. Vanguardeiros: homenagem a Dom Joaquim Silvério de Souza no 60º aniversário de sua morte a 30 de agosto de 1933. Diamantina: Gráfica EPIL, 1993, p. 35). Em 29 de janeiro de 1909 Dom Joaquim foi nomeado Arcebispo Titular de Axun e coadjutor da Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro, onde estava o Cardeal Dom Joaquim Arcoverde de Albuquerque Cavalcanti (1850-1930), chamado de o “Cardeal da América Latina”. Alegando motivos particulares e questões de saúde, Dom Joaquim continuou em Diamantina. Aos 57 anos, em 28 de junho de 1917, tornou-se Arcebispo de Diamantina e recebeu o pálio arquiepiscopal em 18/10/1919 das mãos de Dom Silvério Gomes Pimenta.
Dom Joaquim foi membro do Instituto Histórico e Geográfico do Brasil, da Sociedade Internacional de História, de Paris, e fundador da centenária Academia Mineira de Letras, e ocupava a cadeira 23, cujo patrono é Joaquim Felício dos Santos, jurista diamantinense. Dom Joaquim é patrono da cadeira 39 da Academia de Letras do Triângulo Mineiro, fundada em 15/11/1962, em Uberaba, em uma homenagem do acadêmico Dom José Pedro Costa, primeiro ocupante da Cadeira.
Em 1932 o então Núncio Apostólico no Brasil, Dom Bento Aloysio Masella, foi a Diamantina levar a Dom Joaquim a condecoração que lhe fora dada por S.S o Papa Pio XI: a de Conde Romano e assistente ao Sólio Pontifício. (Cf. CARVALHO, o.c, p. 70-71).
Outras importantes homenagens ao grande arcebispo: o povo da antiga cidade mineira de São Domingos do Rio do Peixe a renomeou de Dom Joaquim; seu nome foi dado a escolas, ruas e praças e, em 1959, no centenário de nascimento, o presidente JK mandou cunhar um selo dos Correios com a sua efígie.
O testamento espiritual de Dom Joaquim
Concluo estas páginas apresentando o testamento de Dom Joaquim, publicado na primeira página do jornal A Estrela Polar, edição de 10/09/1933, Ano XXXI, nº 7: “Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Amém. Por este instrumento, por mim escrito, datado e assinado, para valer como meu condicilo, de acordo com os artigos 1651 e 1655 do Código Civil Brasileiro, eu, Joaquim Silvério de Souza, primeiro Arcebispo da Arquidiocese de Diamantina, filho do Capitão Antônio de Souza Monteiro e Dona Anna Felícia Policena de Magalhães, estando em pleno gozo de minhas faculdades mentais, faço esta declaração do que se deve cumprir após meu falecimento e para que se saiba a verdade quanto aos bens por mim havidos ou como tais considerados, ou sob minha administração.
Como é meu dever, agradeço a Deus todas as graças espirituais e temporais a mim concedidas e humildemente lhe suplico perdão de todos os pecados, infidelidades à graça, negligências, omissões, de que me tornei culpado durante o curso da vida, e de modo particular no exercício do ministério sacerdotal e pastoral. No propósito de exalar o último alento firme na fé de tudo quanto ensina a Santa Igreja Católica, em cujo seio tenho a felicidade de viver e da qual, apesar de indigno, tenho a honra de ser ministro, entrego minha alma a Deus pelas mãos de Maria Imaculada, cujo especial amparo, assim como o patrocínio de seu castíssimo esposo, São José, a proteção de São Joaquim, de Santo Antônio, principal Patrono da Arquidiocese, do meu Anjo Custódio, invoco para os meus derradeiros momentos de vida na terra.
Não só aos que mais de perto me ajudaram a levar o peso da administração do Arcebispado, mas a todos os sacerdotes e fiéis sob minha jurisdição, os agradecimentos a que têm direito pelos serviços que prestaram e consolações que deram à minha alma, e a quem de qualquer modo contristei os sentimentos do meu pesar e o pedido de sua indulgência para comigo. Desejo que as Missas a que tenho direito e as que deixo recomendadas sejam celebradas quanto antes.
Dos sacerdotes e fiéis deste Arcebispado e das Dioceses que outrora formaram o Bispado de Diamantina, e são hoje sufragâneas desta Igreja Metropolitana, espero a caridade de suas intercessões diante de Deus em meu favor. Na campa da sepultura que recolher meus ossos, desejo, caso seja possível, se leiam, como contínua invocação minha, as palavras: SPES MEA, DOMINE, MISERICORDIA TUA.
Declaro que de meu não possuo coisa alguma. A meus irmãos ou a filhos seus dei, já há anos, por instrumento legal, e observada também a legislação canônica, alguns alqueires de terra que na Freguesia de São Miguel do Piracicaba (atual Vila Rio Piracicaba) constituíram por doação de meus pais, patrimônio para minha ordenação, e no mesmo fim dispus da pequena herança destes havida.
Como consta de certidão oficial existente na Secretaria do Arcebispado, dei à Mitra Arquidiocesana os livros que me pertenciam e para ela foram adquiridos os posteriores à doação. A ela pertencem todos os paramentos, imagens, alfaias, sacros utensílios, objetos de qualquer natureza existentes no Palácio e que não pertençam a outras pessoas. Simples administrador dos bens da Mitra, nada para mim reservei ainda do que me podia pertencer segundo as leis canônicas, mas tudo, tirado o necessário para minha manutenção, empreguei para o bem da Arquidiocese, principalmente na educação da juventude e amparo das vocações sacerdotais.
Tendo em vida feito o que pude aos que me são mais próximos em sangue, como declarado ficou acima, e não podendo lhes deixar bens temporais, que não possuo, peço que vivam sempre como bons filhos da Igreja e mantenham honrado o nosso nome de família.
Aos Exmos. Srs. Dom Antônio José dos Santos, que me tem feito a caridade de sua valiosa cooperação durante anos e, na sua falta, a Monsenhor Levi Pires de Oliveira, e, no impedimento deste, a Monsenhor Gabriel Amador dos Santos ou a seu sucessor na Secretaria do Arcebispado, aos quais todos renovo minha eterna gratidão, rogo o favor de fazer que se execute, de acordo com a legislação do País, esta minha disposição ou declaração de última vontade. Rogo, enfim, a Deus que me conceda a graça de servi-Lo menos imperfeitamente do que até hoje, durante os dias que por sua infinita misericórdia ainda viver sobre a terra.
Diamantina, 09 de fevereiro de 1929. Dom Joaquim, Arcebispo de Diamantina”.
O santo e sábio arcebispo faleceu no dia 30 de agosto de 1933, em Diamantina.
Texto do Prof. Pe. Ismar Dias de Matos, do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais, cadeira 75. Professor de Filosofia e Cultura Religiosa na PUC Minas.
Fontes:
CARVALHO, Celso de. Dom Joaquim: primeiro arcebispo de Diamantina. Petrópolis: Ed. Vozes, 1935, p. 117-161
COSTA, Dom José Pedro. Vanguardeiros: homenagem a Dom Joaquim Silvério de Souza no 60º aniversário de sua morte a 30 de agosto de 1933. Diamantina: Gráfica EPIL, 1993, p. 35
INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DE MINAS GERAIS, Revista, v. VI: Centenário do nascimento de Dom Joaquim Silvério de Souza, p. 131-141
Jornal “A Estrela Polar”, edição de 10/09/1933, Diamantina-MG, Ano XXXI, nº 7
segunda-feira, 19 de dezembro de 2011
quarta-feira, 12 de outubro de 2011
Perguntas vitais
Diga “xis”, vamos, sorria!
Cadê a felicidade?!
Sorrir na fotografia
Pode não ser de verdade!
Ao ver a fotografia
Da família reunida
Me invade u’a nostalgia:
Aonde foi tanta vida?!
Estou sozinho na foto,
Os outros, todos, cadê?
É só agora que noto
Que eu também vou morrer.
Há outra vida além desta?
A vida, enfim, continua?
O céu é mesmo uma festa
Pra minha vida e pra tua?
Ismar Dias de Matos, sacerdote diocesano, professor de filosofia e cultura religiosa na PUC Minas: p.ismar@pucminas.br
segunda-feira, 3 de outubro de 2011
URGÊNCIA DE NOVAS MISSÕES
Tempos atrás, quando se ouvia falar em Missões, vinham logo à mente as figuras de heróicos missionários e pregadores que se deslocavam para terras distantes, sobretudo onde não havia a presença do cristianismo ou esta era insignificante. Eram as missões que, cumprindo o mandato de Jesus (Mt 28,19-20), se direcionavam aos pagãos, aos gentios: missões ad gentes. Com mais de dois mil anos de missões, as religiões não cristãs abrangem ainda um total 67% da população mundial.
No século passado, o concílio ecumênico Vaticano II (Roma, 1965), as conferências episcopais de Medellín (1968) e de Puebla (1979) perceberam que, embora a missão ad gentes ainda esteja longe de completar sua tarefa, os próprios cristãos passavam por um “esfriamento” da fé e já não demonstravam, como nos primeiros tempos, a força transformadora do evangelho. Na verdade, é necessária uma nova missão, chamada de “nova evangelização” pelo papa João Paulo II, em seu discurso aos bispos latino-americanos, na capital do Haiti, em 09/03/1983: “Nova no seu ardor, nos seus métodos, na sua expressão”; missões para dentro das próprias dioceses e paróquias: missões ad intra.
Neste mês das missões, lembremo-nos que a missão da Igreja, e de cada cristão que assume o mandato de Jesus é evangelizar. Essa é a nossa contínua tarefa. O evangelizador-missionário não tira férias, pois onde ele se encontra, ali ele é missionário.
A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB, reunida em Aparecida-SP, em maio passado, assim resumiu a tarefa primordial da Igreja: “Evangelizar, a partir de Jesus Cristo e na força do Espírito Santo, como Igreja discípula, missionária e profética, alimentada pela Palavra de Deus e pela Eucaristia, à luz da evangélica opção preferencial pelos pobres, para que todos tenham vida, rumo ao Reino definitivo” (CNBB, Doc. 94, 2011).
Ismar Dias de Matos, sacerdote diocesano, professor de filosofia e cultura religiosa da PUC Minas.
No século passado, o concílio ecumênico Vaticano II (Roma, 1965), as conferências episcopais de Medellín (1968) e de Puebla (1979) perceberam que, embora a missão ad gentes ainda esteja longe de completar sua tarefa, os próprios cristãos passavam por um “esfriamento” da fé e já não demonstravam, como nos primeiros tempos, a força transformadora do evangelho. Na verdade, é necessária uma nova missão, chamada de “nova evangelização” pelo papa João Paulo II, em seu discurso aos bispos latino-americanos, na capital do Haiti, em 09/03/1983: “Nova no seu ardor, nos seus métodos, na sua expressão”; missões para dentro das próprias dioceses e paróquias: missões ad intra.
Neste mês das missões, lembremo-nos que a missão da Igreja, e de cada cristão que assume o mandato de Jesus é evangelizar. Essa é a nossa contínua tarefa. O evangelizador-missionário não tira férias, pois onde ele se encontra, ali ele é missionário.
A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB, reunida em Aparecida-SP, em maio passado, assim resumiu a tarefa primordial da Igreja: “Evangelizar, a partir de Jesus Cristo e na força do Espírito Santo, como Igreja discípula, missionária e profética, alimentada pela Palavra de Deus e pela Eucaristia, à luz da evangélica opção preferencial pelos pobres, para que todos tenham vida, rumo ao Reino definitivo” (CNBB, Doc. 94, 2011).
Ismar Dias de Matos, sacerdote diocesano, professor de filosofia e cultura religiosa da PUC Minas.
segunda-feira, 26 de setembro de 2011
Tipo assim, Vei!
Ao ouvir uns jovens conversando e se tratando de “Vei”, indistintamente se era homem ou mulher, pensei que o tal vocativo pode ser considerado um termo universal, como iria Aristóteles. Alguns também se tratam por “Zé”.É a única qualidade boa que vejo – a universalização do termo.
As formas de tratamento “Vei” e “Zé” não fazem acepção de gênero ou de idade, tudo se enquadra neles. Para os jovens, não são termos desrespeitosos. Eles os dizem “de boa”. Revelam que a linguagem está viva, simplificada e,talvez, empobrecida.
Há uma dificuldade para essa juventude elaborar conceitos bem formulados,sem que seja necessário completar o pensamento com muita gesticulação e frases como - “tipo assim”, “por exemplo”, “sei lá, entende?”. Acredito que um vocabulário usual que se paute apenas em pouquíssimos vocábulos acaba por reduzir o pensamento a pequenos movimentos vitais.
Mas nem toda a juventude é assim. Graças a Deus, há aqueles(as) que possuem uma linguagem mais elaborada, sem cair no pedantismo jurássico e conservador. Há muitíssimos jovens empenhados em longas horas de estudo,de leitura, de aprendizado sério para a vida.(Prof.Ismar Dias de Matos, Puc-Minas)
As formas de tratamento “Vei” e “Zé” não fazem acepção de gênero ou de idade, tudo se enquadra neles. Para os jovens, não são termos desrespeitosos. Eles os dizem “de boa”. Revelam que a linguagem está viva, simplificada e,talvez, empobrecida.
Há uma dificuldade para essa juventude elaborar conceitos bem formulados,sem que seja necessário completar o pensamento com muita gesticulação e frases como - “tipo assim”, “por exemplo”, “sei lá, entende?”. Acredito que um vocabulário usual que se paute apenas em pouquíssimos vocábulos acaba por reduzir o pensamento a pequenos movimentos vitais.
Mas nem toda a juventude é assim. Graças a Deus, há aqueles(as) que possuem uma linguagem mais elaborada, sem cair no pedantismo jurássico e conservador. Há muitíssimos jovens empenhados em longas horas de estudo,de leitura, de aprendizado sério para a vida.(Prof.Ismar Dias de Matos, Puc-Minas)
sexta-feira, 9 de setembro de 2011
Pensar é avançar em direção das águas mais profundas
O verbo pensar deriva de pensum, que significa peso, em latim. É por isso que o ato de pensar nos cansa, pois lidamos com pesos. Gastamos muita energia, muitas calorias, ao exercitarmos o pensamento. Pensar também é dificultoso, não é algo simples e fácil. Talvez seja por isso que o mestre Rodin fez o seu Pensador em posição incômoda, a mão apoiando o queixo, e o cotovelo direito apoiado no joelho esquerdo. Experimente ficar nessa posição.
Pensar pode começar com um exercício de memória, mas não é apenas revirar o pensado, o instituído, o comum; não se trata de repetir o que já é; o ato de pensar traz o inaugural, o novo, o revolucionário, por isso é difícil.
Pensar algo diferente daquilo que aí está é como nadar contra a correnteza, é como procurar cabelo em ovo; é como tirar leite de pedras.
Talvez haja alguns exercícios que possamos fazer para aprendermos a pensar. Poderemos, por exemplo, começar a pentear o cabelo ou escovar os dentes com a mão esquerda, caso sejamos destros; tentar ir aos lugares usando outros caminhos nunca percorridos; singrar os “mares nunca dantes navegados”; ousar experimentar novos sabores, novos perfumes. Que outras atitudes podem ser tomadas.
Na adolescência, tive um professor de matemática, Francisco de Assis, que modificava diariamente a posição dos ponteiros de seu relógio de pulso, de modo que nunca sabíamos a hora quando olhássemos o relógio dele. Ele dizia que fazia aquilo para exercitar a memória e o pensamento quando olhasse as horas, pois era preciso fazer contas mentalmente, aumentando, por exemplo, cinqüenta e dois minutos, ou diminuindo uma hora e dezessete minutos. Professor Francisco nos ensinava diferentes modos de resolver um exercício, muitos deles inventados por ele.
Meu professor de filosofia, padre Celso de Carvalho, abotoava seu jaleco, em dias pares, com botões em número ímpar, e vice-versa. Também nunca voltava de um lugar passando pelo mesmo lado da rua. Foi com esse professor que aprendi a ousadia de avançar para águas sempre mais profundas. (Ismar Dias de Matos, PUC Minas)
Pensar pode começar com um exercício de memória, mas não é apenas revirar o pensado, o instituído, o comum; não se trata de repetir o que já é; o ato de pensar traz o inaugural, o novo, o revolucionário, por isso é difícil.
Pensar algo diferente daquilo que aí está é como nadar contra a correnteza, é como procurar cabelo em ovo; é como tirar leite de pedras.
Talvez haja alguns exercícios que possamos fazer para aprendermos a pensar. Poderemos, por exemplo, começar a pentear o cabelo ou escovar os dentes com a mão esquerda, caso sejamos destros; tentar ir aos lugares usando outros caminhos nunca percorridos; singrar os “mares nunca dantes navegados”; ousar experimentar novos sabores, novos perfumes. Que outras atitudes podem ser tomadas.
Na adolescência, tive um professor de matemática, Francisco de Assis, que modificava diariamente a posição dos ponteiros de seu relógio de pulso, de modo que nunca sabíamos a hora quando olhássemos o relógio dele. Ele dizia que fazia aquilo para exercitar a memória e o pensamento quando olhasse as horas, pois era preciso fazer contas mentalmente, aumentando, por exemplo, cinqüenta e dois minutos, ou diminuindo uma hora e dezessete minutos. Professor Francisco nos ensinava diferentes modos de resolver um exercício, muitos deles inventados por ele.
Meu professor de filosofia, padre Celso de Carvalho, abotoava seu jaleco, em dias pares, com botões em número ímpar, e vice-versa. Também nunca voltava de um lugar passando pelo mesmo lado da rua. Foi com esse professor que aprendi a ousadia de avançar para águas sempre mais profundas. (Ismar Dias de Matos, PUC Minas)
Caiu a ficha
Muita gente que usa a expressão “caiu a ficha” nunca usou uma ficha telefônica, talvez nem a conheça. A ficha, indispensável no uso dos terminais de telefone público, era algo parecido com uma moeda de 25 centavos, com um friso no meio de uma das faces; na outra face constava o nome da operadora. A ficha era usada para pagar as ligações. Assim que a ligação telefônica se completava, a ficha caía, e continuava caindo à medida que durava a ligação. Continuamos usando a expressão “caiu a ficha” embora estejamos na época dos cartões telefônicos e dos chips.
Sou do tempo anterior à ficha, em que as ligações interurbanas só eram completadas com o auxílio de um(a) telefonista. Telefonávamos para ele(a) e lhe dávamos o número de telefone com o qual desejávamos falar. Ele(a), então, fazia a mediação entre nós e nosso interlocutor.
Em 1984 passei a Semana Santa em uma pequena cidade próxima de Diamantina, depois de Mendanha e de Couto Magalhães. Ali presenciei algo que nunca vi em lugar nenhum. Só havia telefone em um local: era o posto telefônico. Quando alguém recebia uma ligação, seu nome era anunciado várias vezes em um alto-falante colocado na parte mais alta da cidade. A pessoa, então, ouvindo seu nome, dirigia-se até o posto telefônico, onde, daí a alguns minutos atenderia à chamada. Eu não conhecia ninguém no lugar, mas lembro-me muito bem do nome do pároco sendo anunciado várias vezes ao dia: “Pa-dre Ni-lo, te-le-fone”. E o padre certamente se dirigia ao posto telefônico para atender a mais uma ligação. Ninguém imaginava que os telefones celulares existiriam.(Ismar Dias de Matos, professor de filosofia e cultura religiosa na PUC Minas).
Sou do tempo anterior à ficha, em que as ligações interurbanas só eram completadas com o auxílio de um(a) telefonista. Telefonávamos para ele(a) e lhe dávamos o número de telefone com o qual desejávamos falar. Ele(a), então, fazia a mediação entre nós e nosso interlocutor.
Em 1984 passei a Semana Santa em uma pequena cidade próxima de Diamantina, depois de Mendanha e de Couto Magalhães. Ali presenciei algo que nunca vi em lugar nenhum. Só havia telefone em um local: era o posto telefônico. Quando alguém recebia uma ligação, seu nome era anunciado várias vezes em um alto-falante colocado na parte mais alta da cidade. A pessoa, então, ouvindo seu nome, dirigia-se até o posto telefônico, onde, daí a alguns minutos atenderia à chamada. Eu não conhecia ninguém no lugar, mas lembro-me muito bem do nome do pároco sendo anunciado várias vezes ao dia: “Pa-dre Ni-lo, te-le-fone”. E o padre certamente se dirigia ao posto telefônico para atender a mais uma ligação. Ninguém imaginava que os telefones celulares existiriam.(Ismar Dias de Matos, professor de filosofia e cultura religiosa na PUC Minas).
segunda-feira, 29 de agosto de 2011
DIVERSOS LUGARES SAGRADOS
As pessoas, nas diversas culturas, sempre consideraram as montanhas como lugares mais próximos da divindade, lugares mais próximos dos astros que têm movimentos perfeitos e seguem padrões de comportamento perfeitos. O alto das montanhas é o lugar onde se pode fazer a ligação entre o céu e a terra. O alto é o lugar da morada dos deuses, como o Monte Olimpo (Grécia), Monte Meru (Índia), Monte Haraberezaiti (Irã), Monte Garizin e Monte Sinai (Palestina) etc.
Para o Islamismo o lugar mais elevado da terra é a Kaaba, porque se encontra no centro do céu. Para os cristãos, este lugar é o Gólgota, ou Monte Calvário, pois foi ali que Jesus, o Salvador, realizou seu ato máximo de amor pela humanidade.
A antiga capital do soberano chinês era considerada como o centro do mundo. Ali, no solstício de verão, ao meio dia, o Gnomo não devia ter sombra. Em Jerusalém, o rochedo sobre o qual o templo estava construído era considerado o centro da terra. Shiz, considerada a Jerusalém dos iranianos, encontra-se também no centro do mundo. São, portanto, vários os centros do mundo, dependendo, é claro, da cultura em questão.
Antigamente, a escolha do lugar para a construção de um templo não era aleatória, mas fruto de alguma espécie de hierofania. No fundo, era o próprio Deus que escolhia o lugar. Assim também acontecia com a escolha do local das cidades. Os lugares altos, além da escolha de Deus (lugares mais pertos do céu, local onde era mais fácil fazer a ligação entre a terra e o céu etc.), eram também lugares estratégicos: do alto se pode ver mais longe; ver, por exemplo, os inimigos que se aproximam...
Um templo, para os crentes, é uma cópia do céu, é o lugar da ressantificação do mundo. Sua construção atende a um pedido ou ordem de Deus: “E Javé falou a Moisés, dizendo: Faze-me um santuário, para que eu possa habitar no meio deles. Farás tudo conforme o modelo da habitação e o modelo da sua mobília que irei te mostrar” (Ex. 25, 8-9). O Rei Davi dá as instruções sobre o templo (1 Cron. 28); a Arca de Noé, lugar de salvação antes do Dilúvio, é construída sob as orientações do próprio Deus: 300 côvados de comprimento; 50 côvados de largura e 30 côvados de altura.
A porta do templo, que se abre para o interior da igreja, dá a ideia de continuidade. O espaço do mundo profano se prolonga dentro do espaço sagrado do templo. O limiar ou soleira representa a baliza ou fronteira entre os dois espaços (sagrado e profano). Do limiar para dentro há um espaço diferente daquele que fica lá fora. O interior do templo é visto como o lugar da comunicação com os deuses: os deuses podem descer a terra e os homens podem subir aos céus.
O templo de Jerusalém, construído em grandes dimensões, tomava conta de quase a metade da cidade. Seu grande pátio era como se fosse o mar, lugar onde judeus e pagãos poderiam ficar juntos. A Casa Santa era como se fosse a Terra, lugar de judeus e pagãos. Mas dentro do templo havia lugares só para os judeus e havia também o Santo dos Santos, como se fosse o Céu e ali só entrava o Sumo Sacerdote.
Quando o Rei da Babilônia, Nabucodonosor, atacou e destruiu o primeiro templo dos judeus, certamente queria atacar o que significava a identidade daquele povo, tudo o que o povo possuía de mais sagrado. Em outras palavras: era um ataque ao centro ontológico, ao sagrado, ao ponto vital da cultura judaica. O mesmo se deu quando o general Vespasiano destruiu o segundo templo, no ano 70 da era comum: sobrou apenas uma parede, que se transformou em muro, conhecido como Muro das Lamentações.
Ismar Dias de Matos, professor de filosofia e cultura religiosa na PUC Minas
quarta-feira, 17 de agosto de 2011
Doutrina Social da Igreja
Durante noventa anos, a Inglaterra revolucionou a indústria têxtil, passando de uma produção artesanal e manufatureira para uma produção com uso de maquinário específico. Era o início da RI - Revolução Industrial (1760-1850). Essa revolução provocou muitas mudanças na sociedade: crescimento acelerado do comércio, do urbanismo, da violência urbana etc. Eis, rapidamente, um flash do ambiente social em que nasceu um novo ramo de estudo – a Sociologia. A sociedade pacata, anterior à RI, era normal demais para ser considerada objeto de preocupação e de estudo.
Os primeiros textos que analisam a primeira fase da RI são, respectivamente, de Karl Marx e do bispo alemão Emanuel von Kettler: Manifesto Comunista, de 1848, e As grandes questões sociais de nosso tempo, de 1850. Quanto ao magistério da Igreja, este só se pronuncia sobre a problemática quando a RI já está em sua segunda fase: o papa Leão XIII publica a encíclica Rerum Novarum (RN), em 15.05.1891. A RN é, portanto, o texto inaugural do que ficou conhecido como Doutrina Social da Igreja (DSI). Tão grande foi o impacto da RN, que ela foi sempre citada e relembrada, dentre outras, pela encíclica Quadragesimo Anno, de Pio XI, em 1931, e pela Centesimus Annus, de João Paulo II, de 14.05.1991.
O que vem a ser a DSI? A palavra Doutrina exprime a ideia de um ensinamento estruturado, de determinada validez permanente; Social faz referência ao funcionamento e à estrutura da sociedade, onde existe relação de classes, de setores e de sistemas (econômico, político etc.); Igreja refere-se diretamente ao magistério da Igreja: concílios, sínodos, papa, assembleias e conferências de bispos. Quando se fala em DSI pensa-se espontaneamente nas grandes encíclicas sociais dos papas, no corpus doutrinário do Magistério Social da Igreja.
A DSI alimenta-se do direito natural e da filosofia social, bem como da Bíblia e da tradição da Igreja. Há uma pretensão de validade da DSI, que lhe dá um caráter de universalidade e obrigatoriedade vinculativa, pois existem princípios gerais e absolutamente necessários da ética, da justiça, aos quais as relações sociais devem submeter-se. O objetivo da DSI é chamar os fiéis católicos e todos os homens e mulheres de boa vontade a realizar um discernimento para a ação em face dos acontecimentos tão relevantes para a convivência humana, que bem podem ser qualificados como “sinais dos tempos”.
A DSI não surgiu para defender a propriedade privada nem para criticar e/ou condenar o capitalismo ou o socialismo, mas surgiu como expressão da tomada de consciência, por parte de uma elite eclesial (leia-se primeiro mundo), da “miséria imerecida” dos proletários industriais, homens, mulheres e crianças a quem, segundo o papa Leão XIII, se havia imposto um jugo “pior do que a escravidão” (RN, 1). A razão de ser da DSI é a sua preocupação pelo destino histórico da pessoa humana, na dimensão pessoal e social/comunitária. Juntemos a esse objetivo outros dois, pois completam uma tríade: a solidariedade universal, que exclui todas as formas de individualismo social e político; e o princípio de subsidiaridade, que protege a liberdade, a privacidade e a criatividade das pessoas, das famílias e das associações contra a intromissão indevida do Estado. (Ismar Dias de Matos, sacerdote diocesano, professor de filosofia e cultura religiosa na PUC Minas).
Os primeiros textos que analisam a primeira fase da RI são, respectivamente, de Karl Marx e do bispo alemão Emanuel von Kettler: Manifesto Comunista, de 1848, e As grandes questões sociais de nosso tempo, de 1850. Quanto ao magistério da Igreja, este só se pronuncia sobre a problemática quando a RI já está em sua segunda fase: o papa Leão XIII publica a encíclica Rerum Novarum (RN), em 15.05.1891. A RN é, portanto, o texto inaugural do que ficou conhecido como Doutrina Social da Igreja (DSI). Tão grande foi o impacto da RN, que ela foi sempre citada e relembrada, dentre outras, pela encíclica Quadragesimo Anno, de Pio XI, em 1931, e pela Centesimus Annus, de João Paulo II, de 14.05.1991.
O que vem a ser a DSI? A palavra Doutrina exprime a ideia de um ensinamento estruturado, de determinada validez permanente; Social faz referência ao funcionamento e à estrutura da sociedade, onde existe relação de classes, de setores e de sistemas (econômico, político etc.); Igreja refere-se diretamente ao magistério da Igreja: concílios, sínodos, papa, assembleias e conferências de bispos. Quando se fala em DSI pensa-se espontaneamente nas grandes encíclicas sociais dos papas, no corpus doutrinário do Magistério Social da Igreja.
A DSI alimenta-se do direito natural e da filosofia social, bem como da Bíblia e da tradição da Igreja. Há uma pretensão de validade da DSI, que lhe dá um caráter de universalidade e obrigatoriedade vinculativa, pois existem princípios gerais e absolutamente necessários da ética, da justiça, aos quais as relações sociais devem submeter-se. O objetivo da DSI é chamar os fiéis católicos e todos os homens e mulheres de boa vontade a realizar um discernimento para a ação em face dos acontecimentos tão relevantes para a convivência humana, que bem podem ser qualificados como “sinais dos tempos”.
A DSI não surgiu para defender a propriedade privada nem para criticar e/ou condenar o capitalismo ou o socialismo, mas surgiu como expressão da tomada de consciência, por parte de uma elite eclesial (leia-se primeiro mundo), da “miséria imerecida” dos proletários industriais, homens, mulheres e crianças a quem, segundo o papa Leão XIII, se havia imposto um jugo “pior do que a escravidão” (RN, 1). A razão de ser da DSI é a sua preocupação pelo destino histórico da pessoa humana, na dimensão pessoal e social/comunitária. Juntemos a esse objetivo outros dois, pois completam uma tríade: a solidariedade universal, que exclui todas as formas de individualismo social e político; e o princípio de subsidiaridade, que protege a liberdade, a privacidade e a criatividade das pessoas, das famílias e das associações contra a intromissão indevida do Estado. (Ismar Dias de Matos, sacerdote diocesano, professor de filosofia e cultura religiosa na PUC Minas).
segunda-feira, 8 de agosto de 2011
Não há lugar para idiotas
A palavra “idiota”, em seu significado primordial, etimológico, quer dizer aquele que só sabe falar uma língua, um idioma que, no caso, é o de seu lugar natural, aprendido da mãe. Em princípio, não há nenhum sentido pejorativo no termo. Há muito mais idiotas no mundo do que primeiramente imaginamos. As pessoas que aprendem outras línguas deixam de ser idiotas e podem se tornar poliglotas. Aprender outras línguas é aprender outras visões de mundo, é possibilidade de ver além da casa paterna, é descobrir outros modos de pensar, de julgar, de analisar tudo o que nos circunda. Idiota é, portanto, aquele de visão curta, estreita, míope, incapaz de transpor os limites da própria casa, os limites de si mesmo, do próprio umbigo, incapaz de olhar além do próprio quintal ou ver além dos muros, dos morros, longe. Outro termo usado para alguém assim é “idiossincrático”.
O comportamento idiossincrático encontra, cada vez, menos lugar no mundo atual, pois prevalece a convivência de muitas culturas em espaços pequenos – um edifício, um bairro, uma pequena cidade. O pluralismo cultural impera hoje onde havia a intolerância, a idiossincrasia, a idiotia.
Vamos olhar o mundo além de nossas cercas, de nossas janelas, de nossos quintais; o mundo além de nossas fronteiras nacionais e culturais. (Ismar Dias de Matos, professor de Filosofia e Cultura Religiosa na PUC Minas).
O comportamento idiossincrático encontra, cada vez, menos lugar no mundo atual, pois prevalece a convivência de muitas culturas em espaços pequenos – um edifício, um bairro, uma pequena cidade. O pluralismo cultural impera hoje onde havia a intolerância, a idiossincrasia, a idiotia.
Vamos olhar o mundo além de nossas cercas, de nossas janelas, de nossos quintais; o mundo além de nossas fronteiras nacionais e culturais. (Ismar Dias de Matos, professor de Filosofia e Cultura Religiosa na PUC Minas).
domingo, 17 de julho de 2011
Liberdade religiosa no espaço democrático
Desde a proclamação da República, há quase 123 anos, o Brasil é um Estado laico, ou seja, não possui uma religião oficial, como no tempo do Império. Embora nossa atual Constituição Federal (CF), promulgada em 1988, mencione o “nome de Deus” em seu preâmbulo, isso não quer dizer que o Estado brasileiro seja religioso ou ateu. O Estado é laico, como se pode ver no artigo 19, inciso I, da CF. Porém laico não é sinônimo de ateu; o Estado não patrocina nem a religião nem o ateísmo.
O artigo 5º, inciso VI, da CF afirma que “é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e suas liturgias”. Os incisos VII e VIII também mencionam mais detalhes dessa liberdade religiosa.
Não há nenhum paradoxo em dizer que o Estado é laico e o povo brasileiro é fortemente religioso. Muitos são os credos existentes em nosso território, cristãos e não cristãos, tradicionais ou modernos, com muitos ou pouco seguidores. Todos têm o mesmo direito de existência perante a lei, incluindo o grupo dos que se dizem ateus. Essa pluralidade, constitucionalmente garantida, só é possível em um ambiente verdadeiramente democrático, onde há espaço para os grandes grupos e também para as pequenas minorias.
Há muito os grupos religiosos se organizaram para defender os seus direitos perante o Estado e a própria sociedade. Temos, por exemplo, federações islâmicas, judaicas, diversas congregações cristãs, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), a Associação Brasileira de Ateus e Agnósticos (Atea) etc. O Estado brasileiro dialoga com essas legítimas representações com a mesma abertura com que dialoga com as representações de classe trabalhadora, produtora, política etc. E cada grupo pode pleitear ou defender/criticar as ideias que julgar corretas ou incorretas, pois estamos na arena democrática. No Congresso Nacional há diversas bancadas parlamentares que defendem seus respectivos grupos de origem. Isso é legítimo na democracia, como foi legítimo (embora fartamente criticado!) o acordo celebrado entre o Brasil e a Santa Sé romana, em 26 de agosto de 2009.
Conviver no ambiente democrático, como vimos, é sempre conflituoso, pois há sempre alguém ou um grupo querendo invadir o espaço alheio. Isso sempre fez parte de nossa convivência social. Com o nascimento dos estados, na modernidade, a resolução dos conflitos ficou a cargo do Estado de Direito, com seus poderes organizacionais, de mando e de coerção.
Ainda há muitos grupos reacionários e quase indisponíveis ao diálogo. Contudo, podemos dizer que aquele que desejar viver bem nos dias de hoje deve aprender a conviver com a pluralidade e suas liberdades. Não podemos aceitar as intolerâncias de convivências, tenham elas essa ou aquela origem(Prof.Ismar Dias de Matos, PUC Minas).
O artigo 5º, inciso VI, da CF afirma que “é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e suas liturgias”. Os incisos VII e VIII também mencionam mais detalhes dessa liberdade religiosa.
Não há nenhum paradoxo em dizer que o Estado é laico e o povo brasileiro é fortemente religioso. Muitos são os credos existentes em nosso território, cristãos e não cristãos, tradicionais ou modernos, com muitos ou pouco seguidores. Todos têm o mesmo direito de existência perante a lei, incluindo o grupo dos que se dizem ateus. Essa pluralidade, constitucionalmente garantida, só é possível em um ambiente verdadeiramente democrático, onde há espaço para os grandes grupos e também para as pequenas minorias.
Há muito os grupos religiosos se organizaram para defender os seus direitos perante o Estado e a própria sociedade. Temos, por exemplo, federações islâmicas, judaicas, diversas congregações cristãs, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), a Associação Brasileira de Ateus e Agnósticos (Atea) etc. O Estado brasileiro dialoga com essas legítimas representações com a mesma abertura com que dialoga com as representações de classe trabalhadora, produtora, política etc. E cada grupo pode pleitear ou defender/criticar as ideias que julgar corretas ou incorretas, pois estamos na arena democrática. No Congresso Nacional há diversas bancadas parlamentares que defendem seus respectivos grupos de origem. Isso é legítimo na democracia, como foi legítimo (embora fartamente criticado!) o acordo celebrado entre o Brasil e a Santa Sé romana, em 26 de agosto de 2009.
Conviver no ambiente democrático, como vimos, é sempre conflituoso, pois há sempre alguém ou um grupo querendo invadir o espaço alheio. Isso sempre fez parte de nossa convivência social. Com o nascimento dos estados, na modernidade, a resolução dos conflitos ficou a cargo do Estado de Direito, com seus poderes organizacionais, de mando e de coerção.
Ainda há muitos grupos reacionários e quase indisponíveis ao diálogo. Contudo, podemos dizer que aquele que desejar viver bem nos dias de hoje deve aprender a conviver com a pluralidade e suas liberdades. Não podemos aceitar as intolerâncias de convivências, tenham elas essa ou aquela origem(Prof.Ismar Dias de Matos, PUC Minas).
segunda-feira, 20 de junho de 2011
Festas juninas, julinas e nossas memórias
As festas juninas e julinas fazem parte de nossa cultura popular, de nosso folclore, palavra derivada da língua alemã: Volk-Lore. São festas que nos remetem às nossas memórias, às nossas tradições, às nossas raízes. Quanto mais quisermos crescer para cima, mais teremos que nos firmar em nossas raízes, sob pena de sucumbirmos aos vendavais e tempestades da moda e da modernidade.
É interessante observar que cada um de nós é fruto de um passado, de uma história recente e remota, conservada pela oralidade e pela escrita. Nosso presente é resultado dos anos, séculos e milênios vividos pelos que nos antecederam. Em nossa educação para a vida, assimilamos esse conteúdo e o revalorizamos. Assim formamos nossa ética, nossas leis, nossos costumes, esse patrimônio de humanidade que dá sentido à nossa vida.O Brasil possui inúmeras e riquíssimas expressões de cultura popular. Se quisermos olhar apenas para Minas Gerais já veremos expressões muito variadas. É muito importante celebrá-las, bem como registrá-las em vídeos, em livros, para que não se percam e continuem a orientar os que vierem depois de nós. A celebração dessas tradições reforça os nossos laços comunitários de um modo prazeroso e lúdico.
No início do século passado, um dos fundadores do atual Estado de Israel, David Ben Gurion (1886-1973), percebeu que uma forma de aumentar o sentimento de nacionalidade no povo judeu era o cultivo de uma língua comum. Ele percebera que a língua hebraica, que já havia sido um patrimônio comum, estava sendo esfacelada e esquecida; apenas uns poucos a conheciam. Predominavam na região o inglês e o árabe. Ben Gurion começou, então, a ensinar hebraico a seus irmãos judeus. E foi um projeto bem sucedido. Israel tornou-se um estado independente em 1948.
Os povos gregos foram dominados militarmente pelos romanos, mas os romanos foram dominados pela cultura grega que se sobrepôs ao dominador. A Inglaterra poderia transportar seus reis e príncipes, no dia de seu casamento, em automóveis ultramodernos, mas prefere fazê-lo seguindo tradições multisseculares. Há um exemplo mais convincente do que esse? As raízes da cultura escapam das armas e de tudo o que é passageiro.
Não tenhamos medo ou vergonha de mantermos tradições regionais, nossas músicas, nossas danças, nossas comidas típicas... nossa identidade, enfim. (Ismar Dias de Matos, mestre em filosofia (UFMG), professor de filosofia e cultura religiosa na PUC Minas: p. ismar@pucminas.br )
É interessante observar que cada um de nós é fruto de um passado, de uma história recente e remota, conservada pela oralidade e pela escrita. Nosso presente é resultado dos anos, séculos e milênios vividos pelos que nos antecederam. Em nossa educação para a vida, assimilamos esse conteúdo e o revalorizamos. Assim formamos nossa ética, nossas leis, nossos costumes, esse patrimônio de humanidade que dá sentido à nossa vida.O Brasil possui inúmeras e riquíssimas expressões de cultura popular. Se quisermos olhar apenas para Minas Gerais já veremos expressões muito variadas. É muito importante celebrá-las, bem como registrá-las em vídeos, em livros, para que não se percam e continuem a orientar os que vierem depois de nós. A celebração dessas tradições reforça os nossos laços comunitários de um modo prazeroso e lúdico.
No início do século passado, um dos fundadores do atual Estado de Israel, David Ben Gurion (1886-1973), percebeu que uma forma de aumentar o sentimento de nacionalidade no povo judeu era o cultivo de uma língua comum. Ele percebera que a língua hebraica, que já havia sido um patrimônio comum, estava sendo esfacelada e esquecida; apenas uns poucos a conheciam. Predominavam na região o inglês e o árabe. Ben Gurion começou, então, a ensinar hebraico a seus irmãos judeus. E foi um projeto bem sucedido. Israel tornou-se um estado independente em 1948.
Os povos gregos foram dominados militarmente pelos romanos, mas os romanos foram dominados pela cultura grega que se sobrepôs ao dominador. A Inglaterra poderia transportar seus reis e príncipes, no dia de seu casamento, em automóveis ultramodernos, mas prefere fazê-lo seguindo tradições multisseculares. Há um exemplo mais convincente do que esse? As raízes da cultura escapam das armas e de tudo o que é passageiro.
Não tenhamos medo ou vergonha de mantermos tradições regionais, nossas músicas, nossas danças, nossas comidas típicas... nossa identidade, enfim. (Ismar Dias de Matos, mestre em filosofia (UFMG), professor de filosofia e cultura religiosa na PUC Minas: p. ismar@pucminas.br )
sexta-feira, 17 de junho de 2011
A menina e o presidente
Quando foi presidente da república (1979-1985), o general João Batista Figueiredo colecionou célebres episódios. Uma vez, quando foi interrogado por uma colegial sobre o que faria se ganhasse o salário mínimo, respondeu que daria um tiro na cabeça. A assessoria tentou abafar a estúpida resposta, dizendo que o presidente quis dizer que daria “um tiro na cabeça do salário mínimo injusto” etc. Noutra ocasião, o general-presidente disse preferir o cheiro de cavalos ao cheiro de pessoas.
É também desse último presidente da ditadura militar (1964-1985) a antológica frase a respeito daqueles que não acreditassem em seu projeto de redemocratização. Aos descrentes prometia prender e arrebentar: “Quem não acreditar, eu prendo e arrebento!” Democracia com prisões e cassetetes. Que coisa esquisita!
Mas o que eu gostaria de comentar é a célebre foto de Figueiredo com a então garotinha Rachel Clemens, em 1979, em cerimônia no Palácio de Liberdade em Belo Horizonte. A garota aparece de braços cruzados enquanto o general tenta cumprimentá-la com um aperto de mão. A menina nada sabia de política, mas a fotografia, de autoria de Guinaldo Nicolaevsky, já falecido, transformou-se em mais um símbolo da insatisfação com o governo militar.
O motivo do não-cumprimento não importa. O que importa mesmo é sentido que foi dado à fotografia que percorreu o mundo. A hermenêutica do fato pode ser muito maior do que o próprio fato em si.
P.S: A foto está no Blog de Rachel Clemens. É do Blog da Rach. Vejam: http://blogdarachelmcs.blogspot.com/2011/03/garotinha-que-nao-deu-mao-para-o.html (Ismar Dias de Matos)
É também desse último presidente da ditadura militar (1964-1985) a antológica frase a respeito daqueles que não acreditassem em seu projeto de redemocratização. Aos descrentes prometia prender e arrebentar: “Quem não acreditar, eu prendo e arrebento!” Democracia com prisões e cassetetes. Que coisa esquisita!
Mas o que eu gostaria de comentar é a célebre foto de Figueiredo com a então garotinha Rachel Clemens, em 1979, em cerimônia no Palácio de Liberdade em Belo Horizonte. A garota aparece de braços cruzados enquanto o general tenta cumprimentá-la com um aperto de mão. A menina nada sabia de política, mas a fotografia, de autoria de Guinaldo Nicolaevsky, já falecido, transformou-se em mais um símbolo da insatisfação com o governo militar.
O motivo do não-cumprimento não importa. O que importa mesmo é sentido que foi dado à fotografia que percorreu o mundo. A hermenêutica do fato pode ser muito maior do que o próprio fato em si.
P.S: A foto está no Blog de Rachel Clemens. É do Blog da Rach. Vejam: http://blogdarachelmcs.blogspot.com/2011/03/garotinha-que-nao-deu-mao-para-o.html (Ismar Dias de Matos)
quarta-feira, 8 de junho de 2011
Discípulos de São Tomé?
Muitas são as pessoas que se dizem discípulas de São Tomé porque só acreditam naquilo que veem. Talvez não percebam que a maioria daquilo que constitui o nosso patrimônio cultural é composto por algo que não vemos, não tocamos, ou seja, não faz parte de nosso mundo sensível.
Os cientistas da astronomia, por exemplo, não conhecem o universo, não o sabem por inteiro, mas criaram dele um “modelo” a partir de uma aposta científica, que pode ser chamada de “paradigma”. Assim também se comportam os cientistas da física: eles não veem elétrons, prótons e nêutrons. As funções de cada um desses é descrita, mas eles não são visíveis nem mesmo em aparelhos sofisticados.
Na verdade, os cientistas partem de uma aposta científica e, com ela, tecem uma rede teórica (paradigma) com a qual captam seus peixes (ou seja, seus objetivos). É preciso, primeiro, “crer” para “ver”. Cientistas e místicos, portanto, partem de uma aposta teórica e de fé, respectivamente. Os dois grupos não são opostos, mas podem ser até complementares. Não há lugar na ciência para os pouco informados “discípulos de São Tomé”.
Um “gole” ou uma pequena dose de ciência pode levar alguém ao ateísmo. Vários goles ou muitíssimos goles podem levar alguém ao deslumbramento, à busca dos mistérios que a natureza vai nos revelando aos poucos. O verdadeiro cientista é um humilde interrogador da verdade. A verdade encontrada nunca se apresenta completa, mas sempre é possível acrescentar-lhe algo.A Bíblia nos fala que “no princípio era a Palavra. A palavra estava com Deus e a Palavra era Deus” (João 1, 1). E ainda, a Palavra de Deus é Luz: “Essa luz brilha nas trevas, e as trevas não conseguiram apagá-la” (João 1,5). A carta aos Hebreus nos diz: “Sabemos que a Palavra de Deus formou os mundos; foi assim que aquilo que vemos originou-se de coisas invisíveis” (Hebreus 11,3).
Alguém que tomou “um gole” de ciência poderá não valorizar os textos bíblicos citados, mas essa mesma pessoa acreditará na ciência que afirma: cerca de 95% do universo não pode ser visto, pois é composto da “matéria escura”, ou seja da “matéria primordial” chamada de “partícula de Deus”. Na verdade, é a ignorância que nos afasta de Deus, não a ciência.
Ismar Dias de Matos, mestre em filosofia, é professor de cultura religiosa e filosofia na PUC Minas: p.ismar@pucminas.br
terça-feira, 31 de maio de 2011
Meu sonho
Minha constante oração
Bondoso Deus, dá-me a graça de esvaziar-me de minha arrogante utilidade. Tira de mim a ilusão de ser instrumento de qualquer coisa. Quero ser apenas eu, um homem simples, comum, a teus pés. Tira a minha pressa, a agitação que acelera meu viver e o desejo de estar onde meus pés não pisam. Dá-me um pouco da alegria que plenifica o coração de teus servos e servas inúteis. Quero louvar-te como aquela anônima flor no meio dos pastos, como o pardal solitário no quintal deserto, como as águas murmurantes dos ribeiros, como os cristais escondidos no ventre das montanhas, como as pequeninas borboletas, as pequeninas aranhas, as minúsculas formigas, como o capim que alimenta os animais, o orvalho que cai, como a luz que traz um novo dia para os homens e mulheres.
Quero, Senhor, viver os momentos de gratuidade, sentir as coisas inúteis, como as sonatas, as serestas, quero contemplar as flores que se abrem ao luar, os lírios do campo, os pássaros do céu, quero brincar com as crianças, sorrir com os velhinhos e velhinhas, ser paciente com os que têm necessidades especiais, rezar com os monges, ler os poemas de Neruda, Bandeira, Fernando Pessoa, e ver a banda passando a tocar coisas de amor.(Ismar Dias de Matos)
Quero, Senhor, viver os momentos de gratuidade, sentir as coisas inúteis, como as sonatas, as serestas, quero contemplar as flores que se abrem ao luar, os lírios do campo, os pássaros do céu, quero brincar com as crianças, sorrir com os velhinhos e velhinhas, ser paciente com os que têm necessidades especiais, rezar com os monges, ler os poemas de Neruda, Bandeira, Fernando Pessoa, e ver a banda passando a tocar coisas de amor.(Ismar Dias de Matos)
quinta-feira, 26 de maio de 2011
Felicidades: no plural
Na língua grega, a palavra felicidade é EUDAIMONIA. Poderíamos dizer que se trata de um “bom” (EU) “espírito” (DAIMON) agindo em nós, criando ou provocando sensações agradáveis, prazerosas, tanto no sentido físico como não-físico.
Neste tempo de frio, por exemplo, ficar na cama alguns minutos a mais pode ser considerado um prazer, uma felicidade; tomar a bebida de nossa preferência; comer aquilo de que gostamos mais; estar com a pessoa com quem nos sentimos bem; ouvir a música de nossa preferência etc. são felicidades...no plural. Não há, para nós, uma felicidade (no singular) que seja contínua, sem rupturas, ininterrupta. Uma felicidade integral e eterna, em tese, seria privilégio exclusivo de Deus.Como não somos nem seremos deuses, resta-nos aproveitar bem e positivamente os momentos que a vida nos proporciona junto aos nossos companheiros e companheiras de turismo nessa existência. Sim, somos viajantes e turistas, não temos aqui morada permanente. Mais dia, menos dia, chegará o dia de nossa partida. Não levaremos nada conosco. O importante, então, é que tenhamos aproveitado nossa estada no planeta para vivermos a EUDAIMONIA no plural, na con-vivência harmoniosa com os que estão ao nosso redor.(Ismar Dias de Matos)
Neste tempo de frio, por exemplo, ficar na cama alguns minutos a mais pode ser considerado um prazer, uma felicidade; tomar a bebida de nossa preferência; comer aquilo de que gostamos mais; estar com a pessoa com quem nos sentimos bem; ouvir a música de nossa preferência etc. são felicidades...no plural. Não há, para nós, uma felicidade (no singular) que seja contínua, sem rupturas, ininterrupta. Uma felicidade integral e eterna, em tese, seria privilégio exclusivo de Deus.Como não somos nem seremos deuses, resta-nos aproveitar bem e positivamente os momentos que a vida nos proporciona junto aos nossos companheiros e companheiras de turismo nessa existência. Sim, somos viajantes e turistas, não temos aqui morada permanente. Mais dia, menos dia, chegará o dia de nossa partida. Não levaremos nada conosco. O importante, então, é que tenhamos aproveitado nossa estada no planeta para vivermos a EUDAIMONIA no plural, na con-vivência harmoniosa com os que estão ao nosso redor.(Ismar Dias de Matos)
terça-feira, 17 de maio de 2011
Respeitar o adversário
Dizem que o grande romano Júlio César (100 a.C – 44 a.C), após suas inúmeras vitórias, sempre enaltecia os valores do inimigo. V.g: Os gauleses eram soldados bem treinados, fortes, valentes, corajosos... mas eu os venci! A atitude inteligente de valorizar a própria vitória era a de valorizar o inimigo.
Nos esportes, diferentemente da guerra, não há inimigos, mas apenas adversários, embora o comportamento, sobretudo no futebol, seja o mesmo de uma guerra. E o que é pior: uma guerra de pessoas não inteligentes, pois ridicularizando o adversário, não sabem que ao espezinhá-lo diminuem a importância da própria vitória.
Somente os regimes de Terror é que necessitam da escolha de um inimigo, real ou imaginário. Os líderes terroristas insuflam, então, o ódio em seus comandados e dele todos se alimentam. O outro, o que pensa ou age diferente é, então, um inimigo a ser combatido. Não deve nem ser tolerado. Só os iguais podem conviver.
Muitas vezes as torcidas dos times de futebol agem de modo terrorista. Não suportam que uma pessoa use uma camisa do time adversário. José Simão, em sua fecunda arte de neologismos, chamou essas torcidas organizadas de “trucidas”.
É lamentável constatar a existência de pessoas antidemocráticas (para não dizer terroristas) em uma sociedade tão pluralista como a nossa, que nos move a viver pacificamente com identidades tão diferentes. Essa convivência harmoniosa exigida de todos é garantida pela nossa Constituição. Deveria, antes de ser uma exigência legal, uma convivência virtuosa. Mostraria, então, nosso alto nível de civilização.
Ismar Dias de Matos é professor de Filosofia e Cultura Religiosa na PUC Minas. E-mail: p.ismar@pucminas.br
Nos esportes, diferentemente da guerra, não há inimigos, mas apenas adversários, embora o comportamento, sobretudo no futebol, seja o mesmo de uma guerra. E o que é pior: uma guerra de pessoas não inteligentes, pois ridicularizando o adversário, não sabem que ao espezinhá-lo diminuem a importância da própria vitória.
Somente os regimes de Terror é que necessitam da escolha de um inimigo, real ou imaginário. Os líderes terroristas insuflam, então, o ódio em seus comandados e dele todos se alimentam. O outro, o que pensa ou age diferente é, então, um inimigo a ser combatido. Não deve nem ser tolerado. Só os iguais podem conviver.
Muitas vezes as torcidas dos times de futebol agem de modo terrorista. Não suportam que uma pessoa use uma camisa do time adversário. José Simão, em sua fecunda arte de neologismos, chamou essas torcidas organizadas de “trucidas”.
É lamentável constatar a existência de pessoas antidemocráticas (para não dizer terroristas) em uma sociedade tão pluralista como a nossa, que nos move a viver pacificamente com identidades tão diferentes. Essa convivência harmoniosa exigida de todos é garantida pela nossa Constituição. Deveria, antes de ser uma exigência legal, uma convivência virtuosa. Mostraria, então, nosso alto nível de civilização.
Ismar Dias de Matos é professor de Filosofia e Cultura Religiosa na PUC Minas. E-mail: p.ismar@pucminas.br
domingo, 8 de maio de 2011
Já sei...já sei
O Imperador Dom Pedro II, conforme testemunhos dos que o conheceram de perto, tinha um cacoete. Quando lhe anunciavam qualquer novidade, atalhava logo “Já sei... já sei”. Tal cacoete deu motivo de muitas irreverências, como a que segue abaixo, publicada no jornal Gazeta da Tarde (MAGALHÃES JR., Raimundo. O império em chinelos. Edição ilustrada, Editora Civilização Brasileira, São Paulo: 1957, p. 90).
Já sei, já sei! Sabe tudo
o sábio por excelência!
Sabe mais do que a Ciência
e muito mais do que a lei.
Do passado e do presente
fez um estudo profundo,
sabe o futuro do mundo...
Já sei... já sei.
Matemática, Direito,
Escultura, Geografia,
mistérios da Astronomia,
Tudo sabe o nosso Rei!
Conhece o desconhecido!
Sabe tudo e ensina!
É forte na medicina...
Já sei... já sei.
Espiritismo, Comtismo,
África, América, Europa,
o fardamento da tropa...
Túnis, Marrocos... o bey...
Segredos dos alquimistas,
conhecimentos ignotos,
origem dos terremotos...
Já sei... já sei.
Sabe náutica e poesia,
advinha os alfarrábios!
(Silêncio, Mundo, aprendei!)
Catadupas de ciência
em borbotões fumegantes
vão caindo retumbantes...
Já sei... já sei.
O Padre Eterno, invejoso
de uma tal ciência infusa,
Lhe disse, a juízo de escusa,
- Dom Pedro, me sucedei,
Eu vos darei o Universo!
Mas o sábio firme, teso,
respondeu-Lhe com desprezo:
Já sei... já sei.
Sabe a cobrança de impostos,
o movimento das vagas,
o carnaval e as bisnagas...
Tudo sabe o nosso Rei!
Sabe manter os escravos...
É mesmo um sábio... E ignora
o Rumo de barra a fora.
Já sei... já sei.
Postado por Ismar Dias de Matos: p.ismar@pucminas.br
Já sei, já sei! Sabe tudo
o sábio por excelência!
Sabe mais do que a Ciência
e muito mais do que a lei.
Do passado e do presente
fez um estudo profundo,
sabe o futuro do mundo...
Já sei... já sei.
Matemática, Direito,
Escultura, Geografia,
mistérios da Astronomia,
Tudo sabe o nosso Rei!
Conhece o desconhecido!
Sabe tudo e ensina!
É forte na medicina...
Já sei... já sei.
Espiritismo, Comtismo,
África, América, Europa,
o fardamento da tropa...
Túnis, Marrocos... o bey...
Segredos dos alquimistas,
conhecimentos ignotos,
origem dos terremotos...
Já sei... já sei.
Sabe náutica e poesia,
advinha os alfarrábios!
(Silêncio, Mundo, aprendei!)
Catadupas de ciência
em borbotões fumegantes
vão caindo retumbantes...
Já sei... já sei.
O Padre Eterno, invejoso
de uma tal ciência infusa,
Lhe disse, a juízo de escusa,
- Dom Pedro, me sucedei,
Eu vos darei o Universo!
Mas o sábio firme, teso,
respondeu-Lhe com desprezo:
Já sei... já sei.
Sabe a cobrança de impostos,
o movimento das vagas,
o carnaval e as bisnagas...
Tudo sabe o nosso Rei!
Sabe manter os escravos...
É mesmo um sábio... E ignora
o Rumo de barra a fora.
Já sei... já sei.
Postado por Ismar Dias de Matos: p.ismar@pucminas.br
quinta-feira, 5 de maio de 2011
Obama, Osama e a busca da paz
Uma história mal contada afirma que Obama “matou” Osama no dia 1º de maio, no Paquistão. E que o corpo, após rápida cerimônia fúnebre, foi jogado no mar: não quiseram dar-lhe uma sepultura para que esta não se tornasse lugar de visitação de seguidores, ou seja, para que não se tornasse um ídolo.
No dia seguinte à morte, li nos jornais diversos comentários. Eis alguns deles:
“O presidente dos EUA disse que o mundo ficou melhor com a morte de Osama Bin Laden. Será mesmo? Bin Laden tinha uma legião de seguidores que não deixarão de vingar a morte do líder. M.P.G: Santa Bárbara d'Oeste, SP”.
“A morte de Bin Laden é simbólica por se tratar de importante vitória para os EUA no instante em que se discute a perda de prestígio do poderio americano e resgata a sua vocação belicista. Obama, que vinha fazendo um governo amorfo e perdendo prestígio em meio ao eleitorado, se fortalece e se credencia para a renovação de seu mandato. L.T.N.S: São Luís, MA”.
“Não importa quanto tempo nem quanto se gastou para capturar Bin Laden, pois, para os EUA, essa era uma questão obsessiva. Mas cabe ressaltar que ele nunca havia pegado em um fuzil até que a CIA o ensinasse a utilizá-lo no fim dos anos 1970, para que lutasse no Afeganistão contra a antiga União Soviética. E.A.S: São José dos Campos, SP”.
“Cumprimento os EUA por terem respeitado a tradição islâmica e feito o enterro de Bin Laden em 24 horas, como manda a sua religião. Tenho certeza de que, se o oposto houvesse acontecido, teríamos demonstrações de desrespeito ao corpo e às tradições. T.T: São Paulo, SP”.
“Sobre a morte de Bin Laden (por quem não tenho nenhuma admiração), pergunto: 1) Se fosse um cidadão americano, acusado de várias atrocidades em outros países, será que os EUA deixariam uma tropa estrangeira entrar em seu território e assassiná-lo? 2) Bin Laden não deveria ter sido preso e levado a um tribunal internacional, como foi feito com Saddam Hussein? 3) O corpo não deveria ter sido entregue a uma junta médica independente para autópsia? L.N.M: Pouso Alegre, MG”.
O mundo não fica melhor sem Osama Bin Laden. Explico-me: primeiro porque ele não mais representava o famoso grupo terrorista; segundo, porque ele tem inúmeros seguidores que, possivelmente, irão cometer ações violentas para sinalizar que a luta continua. Uma terceira justificativa: a violência cometida contra Osama apenas deu um cadáver a quem o reclamava, mas não pode gerar a paz.
As pessoas de bem sabem que só a justiça, a solidariedade e o amor geram a paz. Ela não virá após o pipocar dos fuzis, das metralhadoras e das bombas. Por incrível que pareça, não há uma sinalização de fim para essa violência toda. E um dos motivos é: as guerras movimentam bilhões, trilhões de dólares anualmente.
Quando preferimos gritar com nossas crianças e não dialogamos com elas; quando partimos para as agressões físicas e desrespeitamos moral e fisicamente nossas crianças, estamos trabalhando em prol da violência e do terror. A paz e a violência têm algo em comum: são construídas passo a passo. Sejamos construtores da paz.(Ismar Dias de Matos, professor de Filosofia na PUC Minas).
No dia seguinte à morte, li nos jornais diversos comentários. Eis alguns deles:
“O presidente dos EUA disse que o mundo ficou melhor com a morte de Osama Bin Laden. Será mesmo? Bin Laden tinha uma legião de seguidores que não deixarão de vingar a morte do líder. M.P.G: Santa Bárbara d'Oeste, SP”.
“A morte de Bin Laden é simbólica por se tratar de importante vitória para os EUA no instante em que se discute a perda de prestígio do poderio americano e resgata a sua vocação belicista. Obama, que vinha fazendo um governo amorfo e perdendo prestígio em meio ao eleitorado, se fortalece e se credencia para a renovação de seu mandato. L.T.N.S: São Luís, MA”.
“Não importa quanto tempo nem quanto se gastou para capturar Bin Laden, pois, para os EUA, essa era uma questão obsessiva. Mas cabe ressaltar que ele nunca havia pegado em um fuzil até que a CIA o ensinasse a utilizá-lo no fim dos anos 1970, para que lutasse no Afeganistão contra a antiga União Soviética. E.A.S: São José dos Campos, SP”.
“Cumprimento os EUA por terem respeitado a tradição islâmica e feito o enterro de Bin Laden em 24 horas, como manda a sua religião. Tenho certeza de que, se o oposto houvesse acontecido, teríamos demonstrações de desrespeito ao corpo e às tradições. T.T: São Paulo, SP”.
“Sobre a morte de Bin Laden (por quem não tenho nenhuma admiração), pergunto: 1) Se fosse um cidadão americano, acusado de várias atrocidades em outros países, será que os EUA deixariam uma tropa estrangeira entrar em seu território e assassiná-lo? 2) Bin Laden não deveria ter sido preso e levado a um tribunal internacional, como foi feito com Saddam Hussein? 3) O corpo não deveria ter sido entregue a uma junta médica independente para autópsia? L.N.M: Pouso Alegre, MG”.
O mundo não fica melhor sem Osama Bin Laden. Explico-me: primeiro porque ele não mais representava o famoso grupo terrorista; segundo, porque ele tem inúmeros seguidores que, possivelmente, irão cometer ações violentas para sinalizar que a luta continua. Uma terceira justificativa: a violência cometida contra Osama apenas deu um cadáver a quem o reclamava, mas não pode gerar a paz.
As pessoas de bem sabem que só a justiça, a solidariedade e o amor geram a paz. Ela não virá após o pipocar dos fuzis, das metralhadoras e das bombas. Por incrível que pareça, não há uma sinalização de fim para essa violência toda. E um dos motivos é: as guerras movimentam bilhões, trilhões de dólares anualmente.
Quando preferimos gritar com nossas crianças e não dialogamos com elas; quando partimos para as agressões físicas e desrespeitamos moral e fisicamente nossas crianças, estamos trabalhando em prol da violência e do terror. A paz e a violência têm algo em comum: são construídas passo a passo. Sejamos construtores da paz.(Ismar Dias de Matos, professor de Filosofia na PUC Minas).
terça-feira, 3 de maio de 2011
Heróis e santos
Os seres humanos não vivem sem heróis e heroínas, pois eles representam um ideal, um protótipo a ser imitado ou seguido. As mitologias de todas as culturas, desde os mais remotos tempos, estão repletas de heróis que encarnam um misto de profano e sagrado. Os heróis e heroínas pairam sobre as pessoas comuns, num panteão, num céu ou qualquer lugar onde a corrupção não reside. As religiões também têm os seus santos e santas, e eles são modelos colocados para a humanidade. A canonização, no caso dos cristãos católicos, coloca esses modelos no rol daqueles(as) que se confirmaram por seus feitos e virtudes. A Igreja Católica Romana não cria santos(as), mas apenas os confirma após apurado exame processual.
No domingo, 1º de maio, a Igreja Católica Romana inscreveu o nome do papa João Paulo II (18/05/1920 - 02/04/2005) entre aqueles que estão a caminho dessa confirmação. O pontífice foi declarado Beato (ou Bem-Aventurado) pelo seu sucessor na cátedra de Pedro, papa Bento XVI. Na conclusão da próxima etapa do processo, que certamente também não demorará muito, o Beato João Paulo II será declarado Santo.
O Bem-Aventurado Papa João Paulo II, que esteve no Brasil por três vezes, governou a Igreja Católica por mais de 25 anos, e em seu pontificado declarou 482 Santos e 1341 Beatos. Para ele, o mundo contemporâneo vive numa ausência de normas ou regulamentos e, por isso, há um relativismo ético e moral que corrói os fundamentos da sociedade. Os beatos e santos são colocados, por isso, como pessoas que, mesmo numa anomia reinante, conseguem viver os valores do Evangelho e são testemunhas concretas da Páscoa de Cristo, fonte de toda santidade.
Hoje, por causa das diversas mídias atuantes, muitas pessoas se sentem pressionadas a sair do anonimato e a se tornarem celebridades, mesmo que seja por quinze minutos. O que faz uma celebridade hoje não é ter realizado algo grandioso em prol da sociedade, não é possuir virtudes cívicas ou morais, como os heróis e heroínas do passado. E por isso a celebridade pode ir embora com a mesma celeridade com que chegou. E os heróis e heroínas ficam para sempre. (Ismar Dias de Matos, sacerdote diocesano, é professor de Filosofia e Cultura Religiosa na PUC Minas. E-mail: p.ismar@pucminas.br)
No domingo, 1º de maio, a Igreja Católica Romana inscreveu o nome do papa João Paulo II (18/05/1920 - 02/04/2005) entre aqueles que estão a caminho dessa confirmação. O pontífice foi declarado Beato (ou Bem-Aventurado) pelo seu sucessor na cátedra de Pedro, papa Bento XVI. Na conclusão da próxima etapa do processo, que certamente também não demorará muito, o Beato João Paulo II será declarado Santo.
O Bem-Aventurado Papa João Paulo II, que esteve no Brasil por três vezes, governou a Igreja Católica por mais de 25 anos, e em seu pontificado declarou 482 Santos e 1341 Beatos. Para ele, o mundo contemporâneo vive numa ausência de normas ou regulamentos e, por isso, há um relativismo ético e moral que corrói os fundamentos da sociedade. Os beatos e santos são colocados, por isso, como pessoas que, mesmo numa anomia reinante, conseguem viver os valores do Evangelho e são testemunhas concretas da Páscoa de Cristo, fonte de toda santidade.
Hoje, por causa das diversas mídias atuantes, muitas pessoas se sentem pressionadas a sair do anonimato e a se tornarem celebridades, mesmo que seja por quinze minutos. O que faz uma celebridade hoje não é ter realizado algo grandioso em prol da sociedade, não é possuir virtudes cívicas ou morais, como os heróis e heroínas do passado. E por isso a celebridade pode ir embora com a mesma celeridade com que chegou. E os heróis e heroínas ficam para sempre. (Ismar Dias de Matos, sacerdote diocesano, é professor de Filosofia e Cultura Religiosa na PUC Minas. E-mail: p.ismar@pucminas.br)
segunda-feira, 25 de abril de 2011
Páscoa ontem e hoje
A primeira páscoa registrada nas Escrituras Sagradas, na Tanak – תנ״ך , em hebraico, e corresponde ao Primeiro Testamento da Bíblia cristã – foi a passagem do Anjo Exterminador nas terras do Egito, onde muitos hebreus viviam e trabalhavam como escravos. A passagem do anjo exterminou todos os primogênitos daquele país, desde o filho do faraó, passando pelos filhos dos cidadãos comuns até atingir o primogênito dos animais. Esse acontecimento pode ser lido no livro do Êxodo (Shemôt, em hebraico): capítulos 11 e 12. Eis um resumo:
Antes da décima praga, o profeta Moisés foi instruído a pedir para que cada família hebreia sacrificasse um cordeiro e molhasse os umbrais (mezuzót) das portas com o sangue do cordeiro, para que não fossem acometidos pela morte de seus primogênitos.
Chegada a noite, os hebreus comeram a carne do cordeiro, acompanhada de pão ázimo e ervas amargas, como o rábano, por exemplo. À meia-noite, um anjo enviado por Javé feriu de morte todos os primogênitos egípcios. Então o faraó, temendo ainda mais a ira Divina, aceitou liberar o povo de Israel para adoração no deserto, o que levou ao Êxodo. Como recordação desta liberação, e do castigo de Javé sobre o faraó foi instituído para todas as gerações o sacríficio de Pessach, ou seja, da Páscoa.
Aos poucos a Páscoa foi ganhando uma característica de libertação, de mudança de vida, de saída de uma terra da opressão para um lugar de liberdade.
O sentido da Páscoa cristã é o da vitória da vida sobre a morte. Jesus, o Cristo, foi flagelado, crucificado, morto e sepultado, mas não permaneceu sob o domínio da morte: ressuscitou! Venceu a morte, a grande senhora que dava sempre a última palavra! Com a vitória de Jesus sobre a morte, ele pode então ser chamado de Senhor: Senhor Jesus Cristo!
A ressurreição é, pois, a grande esperança anunciada pelo cristianismo. É o grande mote inspirador de todas as ações evangelizadoras dos cristãos e das Igrejas verdadeiramente comprometidas com o Evangelho.
Creio que nos é permitido dizer que a RESSURREIÇÃO virá no final de muitas outras pequeninas ressurreições, quando tivermos vencido muitas situações negativas e colocado no lugar ações de VIDA e de ESPERANÇA. Toda vitória de otimismo sobre o desânimo é semente de ressurreição; todo gesto de solidariedade que se sobrepõe ao egoísmo; todo gesto de caridade, de justiça, de bondade, por menor que sejam, são sementes de ressurreição. Ela não é uma mágica escondida e revelada apenas no final, após a morte. Ela se nos mostra agora, no dia-a-dia de cada um de nós.
Feliz Páscoa!
(Ismar Dias de Matos, sacerdote diocesano, professor de Filosofia e Cultura Religiosa na PUC Minas).
sexta-feira, 22 de abril de 2011
FELIZ PÁSCOA
Às vezes vemos tanta violência, tanta dor, tanta morte (e isso nos machuca tanto!) que nossa esperança se enfraquece e quase não acreditamos em RESSURREIÇÃO. Mas sabemos que, por mais longa que seja a noite, por mais escura que seja a madrugada, o sol vai surgir ao amanhecer. Jesus é o SOL que brilha em nossas madrugadas escuras.
Acreditemos na VIDA. Feliz Páscoa!!!
Acreditemos na VIDA. Feliz Páscoa!!!
segunda-feira, 18 de abril de 2011
Sexta-feira em Jerusalém, dois milênios atrás
Sexta-feira, vésperas da Páscoa. Nas extremidades de Jerusalém morreram quatro homens e, de certo modo, suas vidas, suas histórias têm algo que pode ser considerado comum, além de haverem morrido no mesmo dia.
Um deles, o mais novo, começou bem a vida, mas terminou mal; o outro começou mal e terminou bem; o terceiro começou mal e terminou mal; o quarto começou bem e terminou bem.
O primeiro deles era um rapaz correto, bom filho, acreditado pelos companheiros. Todos em Jerusalém pensavam que teria um futuro brilhante. Começara tão bem a vida! Era o filho que toda mãe queria ter. Andava sempre em boas companhias. Gravou seu nome na história.
O segundo homem, órfão de pai e mãe desde criança, fugiu de casa cedo e enveredou-se pelas sendas do crime: pequenos roubos, a princípio, depois algo maior, até terminar cometendo um latrocínio. Mas seu coração era bom; os que o conheciam mais de perto sabiam disso. Foi o que lhe valeu um final feliz. A tradição conhece o seu nome.
O terceiro homem tinha um coração de pedra e também poucos amigos. Parecia estar sempre zangado com tudo e com todos. Não sabemos qual é seu nome.
O quarto homem, o mais velho de todos, começou muito bem sua vida. Tinha uma família que o amava bastante. Tinha bons amigos. Mas sua bondade incomodou muita gente. Terminou bem sua vida, cumprindo, segundo suas palavras, o que tinha para cumprir, embora sua vida lhe tenha sido tirada de modo tão brutal. Seu nome dividiu a história: antes dele; depois dele.
Começar a vida bem e terminar mal! Começar bem é tarefa de muitos. Mas não importa apenas começar. O prosseguimento é o que mais importa. Judas apenas começou bem. O restante a gente sabe como foi.
O segundo homem, a tradição o chama de “bom ladrão” (se é que há alguém assim!) e diz que se chamava Dimas. Até falam “São Dimas”. Começou mal e terminou bem. Ponto pra ele!
O terceiro homem é mau ladrão, e não tem nome. Foi impenitente até o fim. Homem de fibra inquebrantável. Durão. Começou mal e terminou mal. Cabeça dura, diríamos hoje.
O quarto homem é Jesus, o Messias, o Cristo: único modelo a ser seguido. Começou bem e terminou bem. Alfa e Ômega. Exemplo maior de compromisso ético e moral. Compromissado com o projeto do Pai. Falou de Si mesmo: Eu sou o Caminho, a Verdade, a Vida. Morreu e ressuscitou. Aleluia! Boa Páscoa para todos! (Ismar Dias de Matos, sacerdote diocesano, é professor de Filosofia e Cultura Religiosa na PUC Minas).
segunda-feira, 11 de abril de 2011
Estamos na semana das dores
A semana que antecede a Semana Santa é, para os católicos, a Semana das Dores. São as dores de Maria, mãe de Jesus, mas podem ser as dores de qualquer mãe.
Durante essa semana, em muitas cidades o povo faz as “procissões do depósito”, quando, quase sempre as mulheres, levam a imagem de Nossa Senhora das Dores para um lugar, e a imagem do Senhor dos Passos, carregada pelos homens, é levada para um lugar diametralmente oposto. Desses lugares saem as procissões.
Normalmente, na quarta-feira da Semana Santa, há então a “procissão do encontro” das imagens de Jesus e de Maria, sua mãe. Há também o tradicional sermão do encontro, que conta com um enorme público.
As pessoas se identificam mais com esses símbolos do sofrimento e da dor do que com aqueles quem lembram a alegria. As tragédias sempre chamaram a atenção do povo, desde os gregos até aos dias atuais. A imagem de Nossa Senhora das Dores, com o peito cravado de espadas, é olhada com carinho e solidariedade por mulheres e homens durante séculos. As dores de Maria parecem irmanar todos aqueles(as) que sofrem.
As dores de Maria, mãe de Jesus, são também as dores de muitas mães e pais, como os pais/mães do Realengo (RJ), por exemplo.
A primeira dessas dores da Mãe de Jesus, segundo o Evangelho, aconteceu quando José e Maria apresentaram o Menino no templo. Ali ouviram as palavras do velho sacerdote Simeão: “este menino será um sinal de contradição... e uma espada há de atravessar-lhe a alma” (Lc 2,34-35) O que significava aquilo? Começava o sofrimento de Maria.
O Evangelho também conta que Maria e José, aflitos, tiveram que fugir com o Menino para o Egito, pois Herodes queria matá-lo, (Mt 2,14-15). Quando o Menino estava com doze anos, após uma visita ao templo, em Jerusalém, ficou lá, perdido dos pais (Lc 2, 48). Anos depois, a caminho do Calvário, Maria encontra-se com seu Filho carregando a própria cruz, na qual seria crucificado; vê o Filho, momentos depois, pregado à cruz; depois o recebe morto (Jo 19, 38-40), e cuida de seu sepultamento (Mt 27, 59-60;Mc 15, 46;Lc 23, 53; Jo 19, 41).
As dores são elementos pedagógicos que a vida nos apresenta para nos preparar para os momentos seguintes, vindouros. O Cristianismo nos ensina que, após o sofrimento e a morte, vem a ressurreição: a morte não dá a última palavra. A ressurreição, sim, é a grande esperança que o cristianismo plantou no mundo.
(Ismar Dias de Matos, professor de Filosofia e Cultura Religiosa na PUC Minas)
quinta-feira, 7 de abril de 2011
Sutiã aos 6 reabre polêmica da "adultização" de crianças
Depois das maquiagens e dos sapatos de salto, crianças ainda longe da pré-adolescência, na faixa dos seis anos, agora têm à disposição sutiãs com enchimento.
Lojas de departamentos passaram a vender peças para meninas com bojos que imitam o formato dos seios, conforme revelou a coluna Mônica Bergamo ontem.
Fábricas de Franca, no interior paulista, afirmam que passaram a produzi-los a pedido de mães cujas filhas disseram querer imitá-las.
Uma funcionária das lojas Pernambucanas da rua da Consolação, na região central de São Paulo, afirma vender cerca de 30 sutiãs infantis com enchimento por dia.
Ontem, no entanto, só eram encontradas peças com numeração a partir de 12. Segundo a Pernambucanas, os produtos com numerações menores foram retirados das lojas "por uma demanda do licenciador [a marca]".
Na Pernambucanas do shopping Aricanduva (zona leste de SP), Maria H.G., 40, e a filha, A.P., 7, examinavam as lingeries. A menina usa o sutiã com bojo desde os seis anos de idade, mas só em casa, para brincar, diz a mãe.
"Como ela é miudinha e magrela, o peito chama muita atenção. Tenho medo de que zombem [fora de casa]."
Adriana A.M., 38, deu a primeira peça a sua filha mais nova quando ela tinha cinco anos. Ela diz ter atendido a uma curiosidade da criança.
"Ela usou muito pouco, mais no começo, porque estava empolgada. É mais a curiosidade de ter um igual ao da mãe", afirma Adriana.
A venda dos sutiãs com enchimento para meninas tão novas reabre a discussão sobre a "adultização" precoce.
"Se até para os adultos o padrão estético desejado é inalcançável, imagina para as crianças, que não têm nada a ver com isso", observa a psicóloga da PUC-SP Maria da Graça Gonçalves.
Vestir criança como adultos, afirma a psicóloga, é deslocá-la da fase que ela deveria viver e jogá-la para um universo adulto.
É por esse motivo que a avó Juracilda I., 52, negou o pedido de sua neta de quatro anos por uma peça com enchimento. "Ela disse: "Ah, vovó, eu quero um igual ao seu". Mas acho errado vestir criança como adulto."
Para a terapeuta sexual Fátima Protti, munir criança de sexualidade, através de maquiagem ou roupa de crescida, é lhe dar uma arma carregada que ela não sabe usar. "Passa longe da criança o sentido erótico por trás do que veste ou usa", afirma.
Diretora da Frelith Lingerie, empresa que fabrica peças para crianças, Sueli M. P., 50, defende o seu produto.
Para ela, as peças são mais "uma brincadeira" do que algo para as meninas usarem no dia a dia.
Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff0704201101.htm Acesso: 07/04/2011.
O ideal da beleza
Vivemos num mundo em que predomina a cultura da imagem. Imagem é tudo. Uma imagem vale mais que mil palavras. Sempre foi assim. O ser humano projeta na imagem o seu mundo ideal. Das pinturas rupestres das cavernas às clássicas pinturas do Renascimento; das pioneiras fotografias às fotos digitalizadas de hoje, o que se busca é uma imagem sempre mais perfeita de nossas projeções interiores. É a busca do ideal, como Platão configurou em sua dupla estrutura de mundo: mundo real e mundo ideal. O real deve buscar sempre o ideal, pois é nele que se encontra o verdadeiro, dizia Platão.
Um dos grandes ideais, de ontem e de hoje, é o da beleza: cuidados com a estética do corpo, do vestuário, da moradia, do automóvel, do ambiente de trabalho, etc. O importante é apresentar-se bem, sempre. Essa busca estética não para nunca, pois os parâmetros de beleza evoluem com o tempo.
Além da presença de homens nas academias para a modelagem do corpo, é comum vê-los em salões de beleza e clínicas de estética. Uma lipoaspiração ou uma pequena cirurgia podem melhorar a apresentação de um executivo e fazê-lo mostrar-se mais light e mais moderno diante de seus clientes. Os apresentadores de programas e telejornais cuidam sobremaneira da aparência. A cultura da imagem exige isso.
Os políticos, por exemplo, sempre se preocuparam com a imagem que os eleitores devem ver. Depois que as câmaras dos legislativos estadual e federal começaram a transmitir pela tv suas sessões, o vestuário dos deputados e senadores passou a ser cuidado com mais esmero, pois os telespectadores telefonam e mandam e-mails reclamando que os parlamentares estão usando sempre a mesma gravata, o mesmo paletó, etc.
Platão afirmou que o corpo deve ser formado pela ginástica e a alma, pela música. Cuidados com o corpo, sim, mas sem beirar ao exagero. É de bom alvitre que busquemos o equilíbrio externo e interno. (Ismar Dias de Matos, Professor de Filosofia e Cultura Religiosa na PUC Minas. E-mail: p.ismar@pucminas.br )
segunda-feira, 4 de abril de 2011
Real e imaginário se misturam
“O que seríamos sem o socorro do que não existe?” (Paul Valéry, poeta francês).
Por incrível que pareça, aquilo que não existe é muito mais forte do que aquilo que tocamos, do que aquilo que chamamos de real e objetivo. E não falo do Realismo ou do Idealismo dos filósofos. Não falo do Transcendental em sentido tomista ou kantiano. Meu voo é mais baixo. E vou dar apenas dois exemplos simples: um referente ao espaço; outro, ao tempo.
O não-espaço ou não-lugar, ou seja, a utopia exerce muito mais poder em nós do que qualquer topia ou tópica. A utopia, no sentido dado por Thomas Morus (ou seja, a não-topia ou o não-lugar) nos impulsiona (como uma mola), nos atrai (como um ímã), nos alivia da fome, do medo, do cansaço (como um bálsamo). Pela utopia nós vivemos e somos. E, no entanto, ela não é objetiva, palpável. É apenas promessa, emunah, futuro, aposta. É alimento da esperança, própria das religiões.
O não-tempo, a acronia também tem a magia de agir em nós e nos transportar num arrebatamento. Somos levados de volta a um passado vivido ou imaginário. Real e imaginário se misturam. Passado e presente se misturam. “Naquele tempo”, de repente se torna hoje; “era uma vez” também é agora. Acronicamente, o tempo vai e volta, não apenas flui, mas reflui ou flui para dentro de nós, influi e nos influencia.
Seria isso apenas um jogo de palavras? Na verdade, somos feitos de palavras. Uma palavra soou e viemos à luz do tempo. Palavras nos dão ânimo, nos espiritualizam, nos inflam e também nos desinflam. Mais do que de pão, nos alimentamos do que não é palpável, mas audível: sopros de voz, flatus vocis. Palavras... A Bíblia nos diz que Deus é Palavra. Deus é Verbo.
(Ismar Dias de Matos, sacerdote diocesano, professor de Filosofia e Cultura Religiosa na PUC Minas. E-mail: p.ismar@pucminas.br)
domingo, 3 de abril de 2011
Protesto religioso se espalha e mata 9 no Afeganistão
Atos contra queima do Corão por pastor chegam a Cabul e Candahar; Houve também algumas manifestações em Herat e Tahar; analistas temem efeito bola de neve no mundo islâmico (DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS (FOLHA DE SÃO PAULO, 03 de abril de 2011)
Os protestos contra a queima do Corão por um pastor americano no dia 20 de março se espalharam pelo Afeganistão. Chegaram ontem a Candahar, coração da insurgência Taleban no país, deixando nove mortos.
Anteontem, sete funcionários da ONU em Mazar-i-Sharif (norte) tinham sido mortos em um ataque ao prédio da entidade na cidade.
Em Candahar centenas de manifestantes, com bandeiras do Taleban e cartazes pedindo "morte à América", colocaram fogo em carros e destruíram lojas.
Como costuma ocorrer, quase todos eram homens jovens. Além dos mortos, 81 ficaram feridos. Salas de aula de uma escola para meninas e um ônibus escolar foram destruídos -o Taleban é contra a educação feminina.
O movimento fundamentalista negou ter orquestrado o protesto, dizendo que ele era apenas a "manifestação do povo islâmico".
Na capital, Cabul, a Otan reprimiu um ataque a uma das suas bases. Dois homens-bomba vestindo burcas (traje feminino) foram mortos antes que se explodissem. Três soldados ficaram levemente feridos.
Além disso, outras regiões, como Herat e Tahar, tiveram manifestações, sem mortes.
Os protestos foram convocados pelos sermões da última sexta-feira, dia de orações entre os islâmicos.
Na sexta-feira anterior, porém, ninguém tinha dado atenção à queima do Corão pelo pastor Terry Jones, da Flórida, ainda que ele já tivesse incinerado a obra.
Quem atraiu a atenção para a queima que tinha passado despercebida foi o presidente do Afeganistão, Hamid Karzai. Ele fez um discurso na quinta dizendo que Jones deveria ser preso.
Ontem, o presidente dos EUA, Barack Obama, condenou a queima do Corão, classificando a ação como um "ato de extrema intolerância e preconceito".
O medo dos especialistas é que os protestos, num efeito bola de neve, levem o Afeganistão (e, no pior dos casos, o mundo islâmico) a um cenário ainda mais instável.
"A raiva contra os estrangeiros, que se manifesta contra militares, ONGs, a ONU e outros atores, precisa apenas de uma pequena faísca para gerar um grande incêndio", diz Thomas Ruttig, diretor da Rede de Analistas do Afeganistão, organização que promove debates e publicações sobre o país.
A opinião de Ruttig condiz com depoimentos dos afegãos nas ruas. O lojista Rahim Mohammad, por exemplo, diz "não sentir pena pelos funcionários da ONU mortos". "Nosso povo é massacrado pelos estrangeiros todos os dias."
Original publicado em: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mundo/ft0304201101.htm Acesso dia 03/04/2011)
Os protestos contra a queima do Corão por um pastor americano no dia 20 de março se espalharam pelo Afeganistão. Chegaram ontem a Candahar, coração da insurgência Taleban no país, deixando nove mortos.
Anteontem, sete funcionários da ONU em Mazar-i-Sharif (norte) tinham sido mortos em um ataque ao prédio da entidade na cidade.
Em Candahar centenas de manifestantes, com bandeiras do Taleban e cartazes pedindo "morte à América", colocaram fogo em carros e destruíram lojas.
Como costuma ocorrer, quase todos eram homens jovens. Além dos mortos, 81 ficaram feridos. Salas de aula de uma escola para meninas e um ônibus escolar foram destruídos -o Taleban é contra a educação feminina.
O movimento fundamentalista negou ter orquestrado o protesto, dizendo que ele era apenas a "manifestação do povo islâmico".
Na capital, Cabul, a Otan reprimiu um ataque a uma das suas bases. Dois homens-bomba vestindo burcas (traje feminino) foram mortos antes que se explodissem. Três soldados ficaram levemente feridos.
Além disso, outras regiões, como Herat e Tahar, tiveram manifestações, sem mortes.
Os protestos foram convocados pelos sermões da última sexta-feira, dia de orações entre os islâmicos.
Na sexta-feira anterior, porém, ninguém tinha dado atenção à queima do Corão pelo pastor Terry Jones, da Flórida, ainda que ele já tivesse incinerado a obra.
Quem atraiu a atenção para a queima que tinha passado despercebida foi o presidente do Afeganistão, Hamid Karzai. Ele fez um discurso na quinta dizendo que Jones deveria ser preso.
Ontem, o presidente dos EUA, Barack Obama, condenou a queima do Corão, classificando a ação como um "ato de extrema intolerância e preconceito".
O medo dos especialistas é que os protestos, num efeito bola de neve, levem o Afeganistão (e, no pior dos casos, o mundo islâmico) a um cenário ainda mais instável.
"A raiva contra os estrangeiros, que se manifesta contra militares, ONGs, a ONU e outros atores, precisa apenas de uma pequena faísca para gerar um grande incêndio", diz Thomas Ruttig, diretor da Rede de Analistas do Afeganistão, organização que promove debates e publicações sobre o país.
A opinião de Ruttig condiz com depoimentos dos afegãos nas ruas. O lojista Rahim Mohammad, por exemplo, diz "não sentir pena pelos funcionários da ONU mortos". "Nosso povo é massacrado pelos estrangeiros todos os dias."
Original publicado em: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mundo/ft0304201101.htm Acesso dia 03/04/2011)
sábado, 2 de abril de 2011
José Alencar e Zé da Silva
José Alencar Gomes da Silva, 79 anos, mineiro de Muriaé, foi cremado dia 31 de março no cemitério Renascer, em Contagem, Minas Gerais. Seu funeral foi o de um chefe de Estado, pois era ex-vice- presidente da república. Seu feito mais decantado ab hoc et ab hac: ter lutado contra um câncer por quinze anos! E o fez nos melhores hospitais do mundo, com os mais renomados médicos e com os equipamentos mais sofisticados.
José Alencar é apresentado como herói nacional, amante da vida e exemplo para os brasileiros. Como empresário-candidato, reuniu pessoas endinheiradas ao redor do então candidato Lula, para mostrar que o famigerado petista estava mudado. Era “Lulinha paz e amor”. Durante oito anos na vice-presidência, Alencar foi, conforme a liturgia do poder, a voz teatral do governo contra os altos juros no Brasil.
Zé da Silva também luta contra o câncer nos hospitais públicos do Brasil. Homem sem rosto e sem poder, Zé da Silva acorda cedo, de madrugada, para encontrar vaga na ambulância da prefeitura. Sua luta é grande e sofrida. Viaja centenas de quilômetros, sem conforto e, ainda assim, dá graças a Deus por isso. Seu tratamento não vai durar quinze anos, como o do outro José. Sua morte não vai sair nos jornais, nem na TV. Só os amigos e vizinhos vão comentar durante uns dias.
Zés da Silva choraram o José que nasceu pobre e se tornou, honestamente, um grande empresário brasileiro e latino-americano. Em 1950 ele tinha apenas uma pequena loja de tecidos (A Queimadeira) em Caratinga, Minas Gerais. Três décadas depois já possuía um grande império, com milhares de empregados. Bravo José! Entrou na política aos 62 anos para fazer algo por Minas e pelo Brasil. Elegeu-se senador em 1998, pelo PMDB. Foi para o PL e, depois, para o PRB. Em 2002 e em 2006 foi o vitorioso vice de Lula. Completaria 80 anos em 17 de outubro. Deixou esposa, filhos e netos.R.I.P (Ismar Dias de Matos, sacerdote diocesano, professor de Filosofia e Cultura Religiosa na PUC Minas: p.ismar@pucminas.br)
quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011
BIG BROTHER BRASIL E O EMBURRECIMENTO
BIG BROTHER BRASIL
Autor: Antonio Barreto ,
Cordelista natural de Santa Bárbara-BA, residente em Salvador.
Curtir o Pedro Bial
E sentir tanta alegria
É sinal de que você
O mau-gosto aprecia
Dá valor ao que é banal
É preguiçoso mental
E adora baixaria.
Há muito tempo não vejo
Um programa tão ‘fuleiro’
Produzido pela Globo
Visando Ibope e dinheiro
Que além de alienar
Vai por certo atrofiar
A mente do brasileiro.
Me refiro ao brasileiro
Que está em formação
E precisa evoluir
Através da Educação
Mas se torna um refém
Iletrado, ‘zé-ninguém’
Um escravo da ilusão.
Em frente à televisão
Lá está toda a família
Longe da realidade
Onde a bobagem fervilha
Não sabendo essa gente
Desprovida e inocente
Desta enorme ‘armadilha’.
Cuidado, Pedro Bial
Chega de esculhambação
Respeite o trabalhador
Dessa sofrida Nação
Deixe de chamar de heróis
Essas girls e esses boys
Que têm cara de bundão.
O seu pai e a sua mãe,
Querido Pedro Bial,
São verdadeiros heróis
E merecem nosso aval
Pois tiveram que lutar
Pra manter e te educar
Com esforço especial..
Muitos já se sentem mal
Com seu discurso vazio.
Pessoas inteligentes
Se enchem de calafrio
Porque quando você fala
A sua palavra é bala
A ferir o nosso brio.
Um país como Brasil
Carente de educação
Precisa de gente grande
Para dar boa lição
Mas você na rede Globo
Faz esse papel de bobo
Enganando a Nação.
Respeite, Pedro Bienal
Nosso povo brasileiro
Que acorda de madrugada
E trabalha o dia inteiro
Dar muito duro, anda rouco
Paga impostos, ganha pouco:
Povo HERÓI, povo guerreiro.
Enquanto a sociedade
Neste momento atual
Se preocupa com a crise
Econômica e social
Você precisa entender
Que queremos aprender
Algo sério – não banal.
Esse programa da Globo
Vem nos mostrar sem engano
Que tudo que ali ocorre
Parece um zoológico humano
Onde impera a esperteza
A malandragem, a baixeza:
Um cenário sub-humano.
A moral e a inteligência
Não são mais valorizadas.
Os “heróis” protagonizam
Um mundo de palhaçadas
Sem critério e sem ética
Em que vaidade e estética
São muito mais que louvadas.
Não se vê força poética
Nem projeto educativo.
Um mar de vulgaridade
Já tornou-se imperativo.
O que se vê realmente
É um programa deprimente
Sem nenhum objetivo.
Talvez haja objetivo
“professor”, Pedro Bial
O que vocês tão querendo
É injetar o banal
Deseducando o Brasil
Nesse Big Brother vil
De lavagem cerebral.
Isso é um de-serviço
Mau exemplo à juventude
Que precisa de esperança
Educação e atitude
Porém a mediocridade
Unida à banalidade
Faz com que ninguém estude.
É grande o constrangimento
De pessoas confinadas
Num espaço luxuoso
Curtindo todas baladas:
Corpos “belos” na piscina
A gastar adrenalina:
Nesse mar de palhaçadas.
Se a intenção da Globo
É de nos “emburrecer”
Deixando o povo demente
Refém do seu poder:
Pois saiba que há exceção
(Amantes da educação)
Vão contestar a valer.
A você, Pedro Bial
Um mercador da ilusão
Junto a poderosa Globo
Que conduz nossa Nação
Eu lhe peço esse favor:
Reflita no seu labor
E escute seu coração.
E vocês caros irmãos
Que estão nessa cegueira
Não façam mais ligações
Apoiando essa besteira.
Não dêm sua grana à Globo
Isso é papel de bobo:
Fujam dessa baboseira.
E quando chegar ao fim
Desse Big Brother vil
Que em nada contribui
Para o povo varonil
Ninguém vai sentir saudade:
Quem lucra é a sociedade
Do nosso querido Brasil.
E saiba, caro leitor
Que nós somos os culpados
Porque sai do nosso bolso
Esses milhões desejados
Que são ligações diárias
Bastante desnecessárias
Pra esses desocupados.
A loja do BBB
Vendendo só porcaria
Enganando muita gente
Que logo se contagia
Com tanta futilidade
Um mar de vulgaridade
Que nunca terá valia.
Chega de vulgaridade
E apelo sexual.
Não somos só futebol,
baixaria e carnaval.
Queremos Educação
E também evolução
No mundo espiritual.
Cadê a cidadania
Dos nossos educadores
Dos alunos, dos políticos
Poetas, trabalhadores?
Seremos sempre enganados
e vamos ficar calados
diante de enganadores?
Barreto termina assim
Alertando ao Bial:
Reveja logo esse equívoco
Reaja à força do mal…
Eleve o seu coração
Tomando uma decisão
Ou então: siga, animal…
FIM
Salvador, 16 de janeiro de 2011
Autor: Antonio Barreto
Cordelista natural de Santa Bárbara-BA, residente em Salvador.
Curtir o Pedro Bial
E sentir tanta alegria
É sinal de que você
O mau-gosto aprecia
Dá valor ao que é banal
É preguiçoso mental
E adora baixaria.
Há muito tempo não vejo
Um programa tão ‘fuleiro’
Produzido pela Globo
Visando Ibope e dinheiro
Que além de alienar
Vai por certo atrofiar
A mente do brasileiro.
Me refiro ao brasileiro
Que está em formação
E precisa evoluir
Através da Educação
Mas se torna um refém
Iletrado, ‘zé-ninguém’
Um escravo da ilusão.
Em frente à televisão
Lá está toda a família
Longe da realidade
Onde a bobagem fervilha
Não sabendo essa gente
Desprovida e inocente
Desta enorme ‘armadilha’.
Cuidado, Pedro Bial
Chega de esculhambação
Respeite o trabalhador
Dessa sofrida Nação
Deixe de chamar de heróis
Essas girls e esses boys
Que têm cara de bundão.
O seu pai e a sua mãe,
Querido Pedro Bial,
São verdadeiros heróis
E merecem nosso aval
Pois tiveram que lutar
Pra manter e te educar
Com esforço especial..
Muitos já se sentem mal
Com seu discurso vazio.
Pessoas inteligentes
Se enchem de calafrio
Porque quando você fala
A sua palavra é bala
A ferir o nosso brio.
Um país como Brasil
Carente de educação
Precisa de gente grande
Para dar boa lição
Mas você na rede Globo
Faz esse papel de bobo
Enganando a Nação.
Respeite, Pedro Bienal
Nosso povo brasileiro
Que acorda de madrugada
E trabalha o dia inteiro
Dar muito duro, anda rouco
Paga impostos, ganha pouco:
Povo HERÓI, povo guerreiro.
Enquanto a sociedade
Neste momento atual
Se preocupa com a crise
Econômica e social
Você precisa entender
Que queremos aprender
Algo sério – não banal.
Esse programa da Globo
Vem nos mostrar sem engano
Que tudo que ali ocorre
Parece um zoológico humano
Onde impera a esperteza
A malandragem, a baixeza:
Um cenário sub-humano.
A moral e a inteligência
Não são mais valorizadas.
Os “heróis” protagonizam
Um mundo de palhaçadas
Sem critério e sem ética
Em que vaidade e estética
São muito mais que louvadas.
Não se vê força poética
Nem projeto educativo.
Um mar de vulgaridade
Já tornou-se imperativo.
O que se vê realmente
É um programa deprimente
Sem nenhum objetivo.
Talvez haja objetivo
“professor”, Pedro Bial
O que vocês tão querendo
É injetar o banal
Deseducando o Brasil
Nesse Big Brother vil
De lavagem cerebral.
Isso é um de-serviço
Mau exemplo à juventude
Que precisa de esperança
Educação e atitude
Porém a mediocridade
Unida à banalidade
Faz com que ninguém estude.
É grande o constrangimento
De pessoas confinadas
Num espaço luxuoso
Curtindo todas baladas:
Corpos “belos” na piscina
A gastar adrenalina:
Nesse mar de palhaçadas.
Se a intenção da Globo
É de nos “emburrecer”
Deixando o povo demente
Refém do seu poder:
Pois saiba que há exceção
(Amantes da educação)
Vão contestar a valer.
A você, Pedro Bial
Um mercador da ilusão
Junto a poderosa Globo
Que conduz nossa Nação
Eu lhe peço esse favor:
Reflita no seu labor
E escute seu coração.
E vocês caros irmãos
Que estão nessa cegueira
Não façam mais ligações
Apoiando essa besteira.
Não dêm sua grana à Globo
Isso é papel de bobo:
Fujam dessa baboseira.
E quando chegar ao fim
Desse Big Brother vil
Que em nada contribui
Para o povo varonil
Ninguém vai sentir saudade:
Quem lucra é a sociedade
Do nosso querido Brasil.
E saiba, caro leitor
Que nós somos os culpados
Porque sai do nosso bolso
Esses milhões desejados
Que são ligações diárias
Bastante desnecessárias
Pra esses desocupados.
A loja do BBB
Vendendo só porcaria
Enganando muita gente
Que logo se contagia
Com tanta futilidade
Um mar de vulgaridade
Que nunca terá valia.
Chega de vulgaridade
E apelo sexual.
Não somos só futebol,
baixaria e carnaval.
Queremos Educação
E também evolução
No mundo espiritual.
Cadê a cidadania
Dos nossos educadores
Dos alunos, dos políticos
Poetas, trabalhadores?
Seremos sempre enganados
e vamos ficar calados
diante de enganadores?
Barreto termina assim
Alertando ao Bial:
Reveja logo esse equívoco
Reaja à força do mal…
Eleve o seu coração
Tomando uma decisão
Ou então: siga, animal…
FIM
Salvador, 16 de janeiro de 2011
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