quarta-feira, 8 de junho de 2011

Discípulos de São Tomé?



Muitas são as pessoas que se dizem discípulas de São Tomé porque só acreditam naquilo que veem. Talvez não percebam que a maioria daquilo que constitui o nosso patrimônio cultural é composto por algo que não vemos, não tocamos, ou seja, não faz parte de nosso mundo sensível.

Os cientistas da astronomia, por exemplo, não conhecem o universo, não o sabem por inteiro, mas criaram dele um “modelo” a partir de uma aposta científica, que pode ser chamada de “paradigma”. Assim também se comportam os cientistas da física: eles não veem elétrons, prótons e nêutrons. As funções de cada um desses é descrita, mas eles não são visíveis nem mesmo em aparelhos sofisticados.

Na verdade, os cientistas partem de uma aposta científica e, com ela, tecem uma rede teórica (paradigma) com a qual captam seus peixes (ou seja, seus objetivos). É preciso, primeiro, “crer” para “ver”. Cientistas e místicos, portanto, partem de uma aposta teórica e de fé, respectivamente. Os dois grupos não são opostos, mas podem ser até complementares. Não há lugar na ciência para os pouco informados “discípulos de São Tomé”.

Um “gole” ou uma pequena dose de ciência pode levar alguém ao ateísmo. Vários goles ou muitíssimos goles podem levar alguém ao deslumbramento, à busca dos mistérios que a natureza vai nos revelando aos poucos. O verdadeiro cientista é um humilde interrogador da verdade. A verdade encontrada nunca se apresenta completa, mas sempre é possível acrescentar-lhe algo.A Bíblia nos fala que “no princípio era a Palavra. A palavra estava com Deus e a Palavra era Deus” (João 1, 1). E ainda, a Palavra de Deus é Luz: “Essa luz brilha nas trevas, e as trevas não conseguiram apagá-la” (João 1,5). A carta aos Hebreus nos diz: “Sabemos que a Palavra de Deus formou os mundos; foi assim que aquilo que vemos originou-se de coisas invisíveis” (Hebreus 11,3).

Alguém que tomou “um gole” de ciência poderá não valorizar os textos bíblicos citados, mas essa mesma pessoa acreditará na ciência que afirma: cerca de 95% do universo não pode ser visto, pois é composto da “matéria escura”, ou seja da “matéria primordial” chamada de “partícula de Deus”. Na verdade, é a ignorância que nos afasta de Deus, não a ciência.

Ismar Dias de Matos, mestre em filosofia, é professor de cultura religiosa e filosofia na PUC Minas: p.ismar@pucminas.br

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