O Imperador Dom Pedro II, conforme testemunhos dos que o conheceram de perto, tinha um cacoete. Quando lhe anunciavam qualquer novidade, atalhava logo “Já sei... já sei”. Tal cacoete deu motivo de muitas irreverências, como a que segue abaixo, publicada no jornal Gazeta da Tarde (MAGALHÃES JR., Raimundo. O império em chinelos. Edição ilustrada, Editora Civilização Brasileira, São Paulo: 1957, p. 90).
Já sei, já sei! Sabe tudo
o sábio por excelência!
Sabe mais do que a Ciência
e muito mais do que a lei.
Do passado e do presente
fez um estudo profundo,
sabe o futuro do mundo...
Já sei... já sei.
Matemática, Direito,
Escultura, Geografia,
mistérios da Astronomia,
Tudo sabe o nosso Rei!
Conhece o desconhecido!
Sabe tudo e ensina!
É forte na medicina...
Já sei... já sei.
Espiritismo, Comtismo,
África, América, Europa,
o fardamento da tropa...
Túnis, Marrocos... o bey...
Segredos dos alquimistas,
conhecimentos ignotos,
origem dos terremotos...
Já sei... já sei.
Sabe náutica e poesia,
advinha os alfarrábios!
(Silêncio, Mundo, aprendei!)
Catadupas de ciência
em borbotões fumegantes
vão caindo retumbantes...
Já sei... já sei.
O Padre Eterno, invejoso
de uma tal ciência infusa,
Lhe disse, a juízo de escusa,
- Dom Pedro, me sucedei,
Eu vos darei o Universo!
Mas o sábio firme, teso,
respondeu-Lhe com desprezo:
Já sei... já sei.
Sabe a cobrança de impostos,
o movimento das vagas,
o carnaval e as bisnagas...
Tudo sabe o nosso Rei!
Sabe manter os escravos...
É mesmo um sábio... E ignora
o Rumo de barra a fora.
Já sei... já sei.
Postado por Ismar Dias de Matos: p.ismar@pucminas.br
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