sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Pensar é avançar em direção das águas mais profundas

O verbo pensar deriva de pensum, que significa peso, em latim. É por isso que o ato de pensar nos cansa, pois lidamos com pesos. Gastamos muita energia, muitas calorias, ao exercitarmos o pensamento. Pensar também é dificultoso, não é algo simples e fácil. Talvez seja por isso que o mestre Rodin fez o seu Pensador em posição incômoda, a mão apoiando o queixo, e o cotovelo direito apoiado no joelho esquerdo. Experimente ficar nessa posição.
Pensar pode começar com um exercício de memória, mas não é apenas revirar o pensado, o instituído, o comum; não se trata de repetir o que já é; o ato de pensar traz o inaugural, o novo, o revolucionário, por isso é difícil.
Pensar algo diferente daquilo que aí está é como nadar contra a correnteza, é como procurar cabelo em ovo; é como tirar leite de pedras.
Talvez haja alguns exercícios que possamos fazer para aprendermos a pensar. Poderemos, por exemplo, começar a pentear o cabelo ou escovar os dentes com a mão esquerda, caso sejamos destros; tentar ir aos lugares usando outros caminhos nunca percorridos; singrar os “mares nunca dantes navegados”; ousar experimentar novos sabores, novos perfumes. Que outras atitudes podem ser tomadas.
Na adolescência, tive um professor de matemática, Francisco de Assis, que modificava diariamente a posição dos ponteiros de seu relógio de pulso, de modo que nunca sabíamos a hora quando olhássemos o relógio dele. Ele dizia que fazia aquilo para exercitar a memória e o pensamento quando olhasse as horas, pois era preciso fazer contas mentalmente, aumentando, por exemplo, cinqüenta e dois minutos, ou diminuindo uma hora e dezessete minutos. Professor Francisco nos ensinava diferentes modos de resolver um exercício, muitos deles inventados por ele.
Meu professor de filosofia, padre Celso de Carvalho, abotoava seu jaleco, em dias pares, com botões em número ímpar, e vice-versa. Também nunca voltava de um lugar passando pelo mesmo lado da rua. Foi com esse professor que aprendi a ousadia de avançar para águas sempre mais profundas. (Ismar Dias de Matos, PUC Minas)

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