quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

Naaman e o outro leproso

Naaman era importante general da Síria; comandava o exército do rei Ben Hadad II; possuía muito poder, muitos bens, mas era doente: leproso. E não deixava de ser vaidoso. Não se afastara das tarefas, pois sua doença era quase imperceptível ainda. Sua criada – uma mocinha judaica, escravizada, de quem não sabemos o nome – disse a seu amo que o Deus de Israel poderia curá-lo, desde que fosse ao profeta Eliseu, na Samaria. E o general foi. Levou cartas de recomendação do rei, levou muito dinheiro e muitas roupas vistosas... O profeta não o recebeu, mandou um secretário em seu lugar, com a ordem: que Naaman fosse se banhar no Jordão, mergulhar sete vezes, e estaria curado. O militar ficou irado com o profeta. Certamente esperava um grande espetáculo.

Um subalterno do general conseguiu convencê-lo a cumprir a ordem do profeta Eliseu. Com jeito e sabedoria - sem dizer estas palavras -, disse a seu chefe que não adiantava sustentar a arrogância e voltar pra casa com a lepra; era preciso descer do salto alto, pois Deus não beneficia os orgulhosos. Naaman, então, obedeceu e foi curado. Sem espetacularização. Tudo simples, como uma flor brotando sem alardes (2 Rs 5, 9-14).

O evangelho (Mc 1, 40-45) nos apresenta um leproso sem nome, que se ajoelha aos pés de Jesus e lhe diz: “Senhor, se queres, tens o poder de curar-me”. Sua doença é a mesma do general sírio, mas sua atitude é bem diferente. Abatido pela doença, marginalizado socialmente, ele se abaixa ainda mais – ajoelha-se aos pés do Nazareno. E recebe a cura! E se ergue renovado. Transbordando de contentamento, ele espalha aos quatro cantos que fora curado por Jesus, embora o Mestre tivesse pedido para que isso não fosse dito.

Nossa doença pode, muitas vezes, se manifestar como a arrogância de Naaman, que ficou indignado por não ser recebido pelo profeta. Julgamo-nos importantes demais, muito mais do que realmente somos. E as graças de Deus passam por nós, sem que as notemos, pois não olhamos para baixo, ou para os lados. Poderíamos aprender a lição de humildade com o leproso mencionado no evangelho, pois só os humildes receberão as graças divinas.

Ismar Dias de Matos, Presbítero da Diocese de Guanhães, Professor de Filosofia e Cultura Religiosa na PUC Minas. E-mail: idmatos@folha.com.br

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