O cenário do Evangelho do 4º domingo do Tempo Comum (Mc 1, 21-18) é Cafarnaum, “às margens do mar da Galileia, nos confins de Zabulon e Neftali” (Mt 4, 13-14), para onde Jesus se mudara (Mt 9,1). Cafarnaum, em hebraico Kephar Nachûm, é Aldeia da Consolação, ambiente onde aconteceram muitos episódios de destaque (Mt 8,5; Mc 2, 1-3; Lc 7,1-10; Jo 4, 46-54). Foi ali que Jesus chamou os seus primeiros discípulos (Mc 1,16-20), como nos disse o Evangelho do domingo passado, 22 de janeiro.
O Evangelho nos apresenta as pessoas admiradas com a autoridade de Jesus (Mc 1, 22;Lc 4, 32): viam que Ele era diferente dos escribas e fariseus. Estes possuíam poder, algo dado por outro ser humano; Jesus era autoridade, qualidade que existe sem a necessidade de um poder humano-social. Autoridade e poder não são a mesma coisa. Autoridade (Exousía, na lingua grega) significa algo que vem de dentro, que procede da essência, da substância mais íntima. É algo que dificilmente se adquire, mas algo com o qual a pessoa já nasce. Uma pessoa pode ter poder e não ter autoridade; outra pode ter autoridade sem ter poder. Jesus não tinha poder, mas autoridade: ele não pertencia à casta sacerdotal, não era escriba nem fariseu; era um carpinteiro, mas sua autoridade (toqep, em hebraico) excedia em altura, largura e profundidade a de todos os outros profetas e pregadores.
A força da autoridade também passa pelo caminho do coração e do afeto, da conquista amorosa. A autoridade nada tem de arrogância ou de autoritarismo, que estão próximos do abuso de poder. A verdadeira autoridade nunca abusa de sua força, pois um (im) possível abuso seria a negação de sua essência (Ousía).
Na primeira leitura (Dt 18, 15-20) há também a questão da autoridade: Moisés diz ao povo que Deus fará surgir no meio deles um outro profeta semelhante ao próprio Moisés, que não mais conduzirá os hebreus e não entrará na Terra Prometida. A respeito desse profeta, Deus afirma: “Porei em sua boca as minhas palavras e ele lhes comunicará tudo o que eu lhe mandar”( Dt 18,18). Esse substituto de Moisés será Josué, cujo nome “coincidentemente” possui o mesmo significado do nome de Jesus: “Javé é o salvador”.
Jesus é a Verdade (Jo 14,6), é a Fonte de toda autoridade, que é o próprio Deus (Mt 19, 11). Portanto, quando dizemos no terceiro parágrafo que a etimologia de autoridade é Ex-ousia, a procedência indicada pelo prefixo “ex” nos remete a Deus, princípio de todas as coisas. Ele é a Substância (Ousía) que impregna todos aqueles e aquelas que guiam os irmãos e irmãs em busca de um mundo melhor, mais justo, fraterno e solidário.
Pe. Ismar Dias de Matos, sacerdote da Diocese de Guanhães-MG.
E-mail: p.ismar@pucminas.br
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