
É interessante observar que cada um de nós é fruto de um passado, de uma história recente e remota, conservada pela oralidade e pela escrita. Nosso presente é resultado dos anos, séculos e milênios vividos pelos que nos antecederam. Em nossa educação para a vida, assimilamos esse conteúdo e o revalorizamos. Assim formamos nossa ética, nossas leis, nossos costumes, esse patrimônio de humanidade que dá sentido à nossa vida.O Brasil possui inúmeras e riquíssimas expressões de cultura popular. Se quisermos olhar apenas para Minas Gerais já veremos expressões muito variadas. É muito importante celebrá-las, bem como registrá-las em vídeos, em livros, para que não se percam e continuem a orientar os que vierem depois de nós. A celebração dessas tradições reforça os nossos laços comunitários de um modo prazeroso e lúdico.
No início do século passado, um dos fundadores do atual Estado de Israel, David Ben Gurion (1886-1973), percebeu que uma forma de aumentar o sentimento de nacionalidade no povo judeu era o cultivo de uma língua comum. Ele percebera que a língua hebraica, que já havia sido um patrimônio comum, estava sendo esfacelada e esquecida; apenas uns poucos a conheciam. Predominavam na região o inglês e o árabe. Ben Gurion começou, então, a ensinar hebraico a seus irmãos judeus. E foi um projeto bem sucedido. Israel tornou-se um estado independente em 1948.
Os povos gregos foram dominados militarmente pelos romanos, mas os romanos foram dominados pela cultura grega que se sobrepôs ao dominador. A Inglaterra poderia transportar seus reis e príncipes, no dia de seu casamento, em automóveis ultramodernos, mas prefere fazê-lo seguindo tradições multisseculares. Há um exemplo mais convincente do que esse? As raízes da cultura escapam das armas e de tudo o que é passageiro.
Não tenhamos medo ou vergonha de mantermos tradições regionais, nossas músicas, nossas danças, nossas comidas típicas... nossa identidade, enfim. (Ismar Dias de Matos, mestre em filosofia (UFMG), professor de filosofia e cultura religiosa na PUC Minas: p. ismar@pucminas.br )