segunda-feira, 25 de abril de 2011

Páscoa ontem e hoje


A primeira páscoa registrada nas Escrituras Sagradas, na Tanak תנ״ך , em hebraico, e corresponde ao Primeiro Testamento da Bíblia cristã – foi a passagem do Anjo Exterminador nas terras do Egito, onde muitos hebreus viviam e trabalhavam como escravos. A passagem do anjo exterminou todos os primogênitos daquele país, desde o filho do faraó, passando pelos filhos dos cidadãos comuns até atingir o primogênito dos animais. Esse acontecimento pode ser lido no livro do Êxodo (Shemôt, em hebraico): capítulos 11 e 12. Eis um resumo:
Antes da décima praga, o profeta Moisés foi instruído a pedir para que cada família hebreia sacrificasse um cordeiro e molhasse os umbrais (mezuzót) das portas com o sangue do cordeiro, para que não fossem acometidos pela morte de seus primogênitos.
Chegada a noite, os hebreus comeram a carne do cordeiro, acompanhada de pão ázimo e ervas amargas, como o rábano, por exemplo. À meia-noite, um anjo enviado por Javé feriu de morte todos os primogênitos egípcios. Então o faraó, temendo ainda mais a ira Divina, aceitou liberar o povo de Israel para adoração no deserto, o que levou ao Êxodo. Como recordação desta liberação, e do castigo de Javé sobre o faraó foi instituído para todas as gerações o sacríficio de Pessach, ou seja, da Páscoa.
Aos poucos a Páscoa foi ganhando uma característica de libertação, de mudança de vida, de saída de uma terra da opressão para um lugar de liberdade.
O sentido da Páscoa cristã é o da vitória da vida sobre a morte. Jesus, o Cristo, foi flagelado, crucificado, morto e sepultado, mas não permaneceu sob o domínio da morte: ressuscitou! Venceu a morte, a grande senhora que dava sempre a última palavra! Com a vitória de Jesus sobre a morte, ele pode então ser chamado de Senhor: Senhor Jesus Cristo!
A ressurreição é, pois, a grande esperança anunciada pelo cristianismo. É o grande mote inspirador de todas as ações evangelizadoras dos cristãos e das Igrejas verdadeiramente comprometidas com o Evangelho.
Creio que nos é permitido dizer que a RESSURREIÇÃO virá no final de muitas outras pequeninas ressurreições, quando tivermos vencido muitas situações negativas e colocado no lugar ações de VIDA e de ESPERANÇA. Toda vitória de otimismo sobre o desânimo é semente de ressurreição; todo gesto de solidariedade que se sobrepõe ao egoísmo; todo gesto de caridade, de justiça, de bondade, por menor que sejam, são sementes de ressurreição. Ela não é uma mágica escondida e revelada apenas no final, após a morte. Ela se nos mostra agora, no dia-a-dia de cada um de nós.
Feliz Páscoa!
(Ismar Dias de Matos, sacerdote diocesano, professor de Filosofia e Cultura Religiosa na PUC Minas).

sexta-feira, 22 de abril de 2011

FELIZ PÁSCOA

Às vezes vemos tanta violência, tanta dor, tanta morte (e isso nos machuca tanto!) que nossa esperança se enfraquece e quase não acreditamos em RESSURREIÇÃO. Mas sabemos que, por mais longa que seja a noite, por mais escura que seja a madrugada, o sol vai surgir ao amanhecer. Jesus é o SOL que brilha em nossas madrugadas escuras.
Acreditemos na VIDA. Feliz Páscoa!!!

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Sexta-feira em Jerusalém, dois milênios atrás


Sexta-feira, vésperas da Páscoa. Nas extremidades de Jerusalém morreram quatro homens e, de certo modo, suas vidas, suas histórias têm algo que pode ser considerado comum, além de haverem morrido no mesmo dia.
Um deles, o mais novo, começou bem a vida, mas terminou mal; o outro começou mal e terminou bem; o terceiro começou mal e terminou mal; o quarto começou bem e terminou bem.
O primeiro deles era um rapaz correto, bom filho, acreditado pelos companheiros. Todos em Jerusalém pensavam que teria um futuro brilhante. Começara tão bem a vida! Era o filho que toda mãe queria ter. Andava sempre em boas companhias. Gravou seu nome na história.
O segundo homem, órfão de pai e mãe desde criança, fugiu de casa cedo e enveredou-se pelas sendas do crime: pequenos roubos, a princípio, depois algo maior, até terminar cometendo um latrocínio. Mas seu coração era bom; os que o conheciam mais de perto sabiam disso. Foi o que lhe valeu um final feliz. A tradição conhece o seu nome.
O terceiro homem tinha um coração de pedra e também poucos amigos. Parecia estar sempre zangado com tudo e com todos. Não sabemos qual é seu nome.
O quarto homem, o mais velho de todos, começou muito bem sua vida. Tinha uma família que o amava bastante. Tinha bons amigos. Mas sua bondade incomodou muita gente. Terminou bem sua vida, cumprindo, segundo suas palavras, o que tinha para cumprir, embora sua vida lhe tenha sido tirada de modo tão brutal. Seu nome dividiu a história: antes dele; depois dele.
Começar a vida bem e terminar mal! Começar bem é tarefa de muitos. Mas não importa apenas começar. O prosseguimento é o que mais importa. Judas apenas começou bem. O restante a gente sabe como foi.
O segundo homem, a tradição o chama de “bom ladrão” (se é que há alguém assim!) e diz que se chamava Dimas. Até falam “São Dimas”. Começou mal e terminou bem. Ponto pra ele!
O terceiro homem é mau ladrão, e não tem nome. Foi impenitente até o fim. Homem de fibra inquebrantável. Durão. Começou mal e terminou mal. Cabeça dura, diríamos hoje.
O quarto homem é Jesus, o Messias, o Cristo: único modelo a ser seguido. Começou bem e terminou bem. Alfa e Ômega. Exemplo maior de compromisso ético e moral. Compromissado com o projeto do Pai. Falou de Si mesmo: Eu sou o Caminho, a Verdade, a Vida. Morreu e ressuscitou. Aleluia! Boa Páscoa para todos! (Ismar Dias de Matos, sacerdote diocesano, é professor de Filosofia e Cultura Religiosa na PUC Minas).

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Estamos na semana das dores


A semana que antecede a Semana Santa é, para os católicos, a Semana das Dores. São as dores de Maria, mãe de Jesus, mas podem ser as dores de qualquer mãe.
Durante essa semana, em muitas cidades o povo faz as “procissões do depósito”, quando, quase sempre as mulheres, levam a imagem de Nossa Senhora das Dores para um lugar, e a imagem do Senhor dos Passos, carregada pelos homens, é levada para um lugar diametralmente oposto. Desses lugares saem as procissões.
Normalmente, na quarta-feira da Semana Santa, há então a “procissão do encontro” das imagens de Jesus e de Maria, sua mãe. Há também o tradicional sermão do encontro, que conta com um enorme público.
As pessoas se identificam mais com esses símbolos do sofrimento e da dor do que com aqueles quem lembram a alegria. As tragédias sempre chamaram a atenção do povo, desde os gregos até aos dias atuais. A imagem de Nossa Senhora das Dores, com o peito cravado de espadas, é olhada com carinho e solidariedade por mulheres e homens durante séculos. As dores de Maria parecem irmanar todos aqueles(as) que sofrem.
As dores de Maria, mãe de Jesus, são também as dores de muitas mães e pais, como os pais/mães do Realengo (RJ), por exemplo.
A primeira dessas dores da Mãe de Jesus, segundo o Evangelho, aconteceu quando José e Maria apresentaram o Menino no templo. Ali ouviram as palavras do velho sacerdote Simeão: “este menino será um sinal de contradição... e uma espada há de atravessar-lhe a alma” (Lc 2,34-35) O que significava aquilo? Começava o sofrimento de Maria.
O Evangelho também conta que Maria e José, aflitos, tiveram que fugir com o Menino para o Egito, pois Herodes queria matá-lo, (Mt 2,14-15). Quando o Menino estava com doze anos, após uma visita ao templo, em Jerusalém, ficou lá, perdido dos pais (Lc 2, 48). Anos depois, a caminho do Calvário, Maria encontra-se com seu Filho carregando a própria cruz, na qual seria crucificado; vê o Filho, momentos depois, pregado à cruz; depois o recebe morto (Jo 19, 38-40), e cuida de seu sepultamento (Mt 27, 59-60;Mc 15, 46;Lc 23, 53; Jo 19, 41).
As dores são elementos pedagógicos que a vida nos apresenta para nos preparar para os momentos seguintes, vindouros. O Cristianismo nos ensina que, após o sofrimento e a morte, vem a ressurreição: a morte não dá a última palavra. A ressurreição, sim, é a grande esperança que o cristianismo plantou no mundo.
(Ismar Dias de Matos, professor de Filosofia e Cultura Religiosa na PUC Minas)

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Sutiã aos 6 reabre polêmica da "adultização" de crianças


Depois das maquiagens e dos sapatos de salto, crianças ainda longe da pré-adolescência, na faixa dos seis anos, agora têm à disposição sutiãs com enchimento.
Lojas de departamentos passaram a vender peças para meninas com bojos que imitam o formato dos seios, conforme revelou a coluna Mônica Bergamo ontem.
Fábricas de Franca, no interior paulista, afirmam que passaram a produzi-los a pedido de mães cujas filhas disseram querer imitá-las.
Uma funcionária das lojas Pernambucanas da rua da Consolação, na região central de São Paulo, afirma vender cerca de 30 sutiãs infantis com enchimento por dia.
Ontem, no entanto, só eram encontradas peças com numeração a partir de 12. Segundo a Pernambucanas, os produtos com numerações menores foram retirados das lojas "por uma demanda do licenciador [a marca]".
Na Pernambucanas do shopping Aricanduva (zona leste de SP), Maria H.G., 40, e a filha, A.P., 7, examinavam as lingeries. A menina usa o sutiã com bojo desde os seis anos de idade, mas só em casa, para brincar, diz a mãe.
"Como ela é miudinha e magrela, o peito chama muita atenção. Tenho medo de que zombem [fora de casa]."
Adriana A.M., 38, deu a primeira peça a sua filha mais nova quando ela tinha cinco anos. Ela diz ter atendido a uma curiosidade da criança.
"Ela usou muito pouco, mais no começo, porque estava empolgada. É mais a curiosidade de ter um igual ao da mãe", afirma Adriana.
A venda dos sutiãs com enchimento para meninas tão novas reabre a discussão sobre a "adultização" precoce.
"Se até para os adultos o padrão estético desejado é inalcançável, imagina para as crianças, que não têm nada a ver com isso", observa a psicóloga da PUC-SP Maria da Graça Gonçalves.
Vestir criança como adultos, afirma a psicóloga, é deslocá-la da fase que ela deveria viver e jogá-la para um universo adulto.
É por esse motivo que a avó Juracilda I., 52, negou o pedido de sua neta de quatro anos por uma peça com enchimento. "Ela disse: "Ah, vovó, eu quero um igual ao seu". Mas acho errado vestir criança como adulto."
Para a terapeuta sexual Fátima Protti, munir criança de sexualidade, através de maquiagem ou roupa de crescida, é lhe dar uma arma carregada que ela não sabe usar. "Passa longe da criança o sentido erótico por trás do que veste ou usa", afirma.
Diretora da Frelith Lingerie, empresa que fabrica peças para crianças, Sueli M. P., 50, defende o seu produto.
Para ela, as peças são mais "uma brincadeira" do que algo para as meninas usarem no dia a dia.

Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff0704201101.htm Acesso: 07/04/2011.

O ideal da beleza


Vivemos num mundo em que predomina a cultura da imagem. Imagem é tudo. Uma imagem vale mais que mil palavras. Sempre foi assim. O ser humano projeta na imagem o seu mundo ideal. Das pinturas rupestres das cavernas às clássicas pinturas do Renascimento; das pioneiras fotografias às fotos digitalizadas de hoje, o que se busca é uma imagem sempre mais perfeita de nossas projeções interiores. É a busca do ideal, como Platão configurou em sua dupla estrutura de mundo: mundo real e mundo ideal. O real deve buscar sempre o ideal, pois é nele que se encontra o verdadeiro, dizia Platão.
Um dos grandes ideais, de ontem e de hoje, é o da beleza: cuidados com a estética do corpo, do vestuário, da moradia, do automóvel, do ambiente de trabalho, etc. O importante é apresentar-se bem, sempre. Essa busca estética não para nunca, pois os parâmetros de beleza evoluem com o tempo.
Além da presença de homens nas academias para a modelagem do corpo, é comum vê-los em salões de beleza e clínicas de estética. Uma lipoaspiração ou uma pequena cirurgia podem melhorar a apresentação de um executivo e fazê-lo mostrar-se mais light e mais moderno diante de seus clientes. Os apresentadores de programas e telejornais cuidam sobremaneira da aparência. A cultura da imagem exige isso.
Os políticos, por exemplo, sempre se preocuparam com a imagem que os eleitores devem ver. Depois que as câmaras dos legislativos estadual e federal começaram a transmitir pela tv suas sessões, o vestuário dos deputados e senadores passou a ser cuidado com mais esmero, pois os telespectadores telefonam e mandam e-mails reclamando que os parlamentares estão usando sempre a mesma gravata, o mesmo paletó, etc.
Platão afirmou que o corpo deve ser formado pela ginástica e a alma, pela música. Cuidados com o corpo, sim, mas sem beirar ao exagero. É de bom alvitre que busquemos o equilíbrio externo e interno. (Ismar Dias de Matos, Professor de Filosofia e Cultura Religiosa na PUC Minas. E-mail: p.ismar@pucminas.br )

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Real e imaginário se misturam


O que seríamos sem o socorro do que não existe?” (Paul Valéry, poeta francês).

Por incrível que pareça, aquilo que não existe é muito mais forte do que aquilo que tocamos, do que aquilo que chamamos de real e objetivo. E não falo do Realismo ou do Idealismo dos filósofos. Não falo do Transcendental em sentido tomista ou kantiano. Meu voo é mais baixo. E vou dar apenas dois exemplos simples: um referente ao espaço; outro, ao tempo.
O não-espaço ou não-lugar, ou seja, a utopia exerce muito mais poder em nós do que qualquer topia ou tópica. A utopia, no sentido dado por Thomas Morus (ou seja, a não-topia ou o não-lugar) nos impulsiona (como uma mola), nos atrai (como um ímã), nos alivia da fome, do medo, do cansaço (como um bálsamo). Pela utopia nós vivemos e somos. E, no entanto, ela não é objetiva, palpável. É apenas promessa, emunah, futuro, aposta. É alimento da esperança, própria das religiões.
O não-tempo, a acronia também tem a magia de agir em nós e nos transportar num arrebatamento. Somos levados de volta a um passado vivido ou imaginário. Real e imaginário se misturam. Passado e presente se misturam. “Naquele tempo”, de repente se torna hoje; “era uma vez” também é agora. Acronicamente, o tempo vai e volta, não apenas flui, mas reflui ou flui para dentro de nós, influi e nos influencia.
Seria isso apenas um jogo de palavras? Na verdade, somos feitos de palavras. Uma palavra soou e viemos à luz do tempo. Palavras nos dão ânimo, nos espiritualizam, nos inflam e também nos desinflam. Mais do que de pão, nos alimentamos do que não é palpável, mas audível: sopros de voz, flatus vocis. Palavras... A Bíblia nos diz que Deus é Palavra. Deus é Verbo.
(Ismar Dias de Matos, sacerdote diocesano, professor de Filosofia e Cultura Religiosa na PUC Minas. E-mail: p.ismar@pucminas.br)

domingo, 3 de abril de 2011

Protesto religioso se espalha e mata 9 no Afeganistão

Atos contra queima do Corão por pastor chegam a Cabul e Candahar; Houve também algumas manifestações em Herat e Tahar; analistas temem efeito bola de neve no mundo islâmico (DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS (FOLHA DE SÃO PAULO, 03 de abril de 2011)

Os protestos contra a queima do Corão por um pastor americano no dia 20 de março se espalharam pelo Afeganistão. Chegaram ontem a Candahar, coração da insurgência Taleban no país, deixando nove mortos.
Anteontem, sete funcionários da ONU em Mazar-i-Sharif (norte) tinham sido mortos em um ataque ao prédio da entidade na cidade.
Em Candahar centenas de manifestantes, com bandeiras do Taleban e cartazes pedindo "morte à América", colocaram fogo em carros e destruíram lojas.
Como costuma ocorrer, quase todos eram homens jovens. Além dos mortos, 81 ficaram feridos. Salas de aula de uma escola para meninas e um ônibus escolar foram destruídos -o Taleban é contra a educação feminina.
O movimento fundamentalista negou ter orquestrado o protesto, dizendo que ele era apenas a "manifestação do povo islâmico".
Na capital, Cabul, a Otan reprimiu um ataque a uma das suas bases. Dois homens-bomba vestindo burcas (traje feminino) foram mortos antes que se explodissem. Três soldados ficaram levemente feridos.
Além disso, outras regiões, como Herat e Tahar, tiveram manifestações, sem mortes.
Os protestos foram convocados pelos sermões da última sexta-feira, dia de orações entre os islâmicos.
Na sexta-feira anterior, porém, ninguém tinha dado atenção à queima do Corão pelo pastor Terry Jones, da Flórida, ainda que ele já tivesse incinerado a obra.
Quem atraiu a atenção para a queima que tinha passado despercebida foi o presidente do Afeganistão, Hamid Karzai. Ele fez um discurso na quinta dizendo que Jones deveria ser preso.
Ontem, o presidente dos EUA, Barack Obama, condenou a queima do Corão, classificando a ação como um "ato de extrema intolerância e preconceito".
O medo dos especialistas é que os protestos, num efeito bola de neve, levem o Afeganistão (e, no pior dos casos, o mundo islâmico) a um cenário ainda mais instável.
"A raiva contra os estrangeiros, que se manifesta contra militares, ONGs, a ONU e outros atores, precisa apenas de uma pequena faísca para gerar um grande incêndio", diz Thomas Ruttig, diretor da Rede de Analistas do Afeganistão, organização que promove debates e publicações sobre o país.
A opinião de Ruttig condiz com depoimentos dos afegãos nas ruas. O lojista Rahim Mohammad, por exemplo, diz "não sentir pena pelos funcionários da ONU mortos". "Nosso povo é massacrado pelos estrangeiros todos os dias."

Original publicado em: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mundo/ft0304201101.htm Acesso dia 03/04/2011)

sábado, 2 de abril de 2011

José Alencar e Zé da Silva


José Alencar Gomes da Silva, 79 anos, mineiro de Muriaé, foi cremado dia 31 de março no cemitério Renascer, em Contagem, Minas Gerais. Seu funeral foi o de um chefe de Estado, pois era ex-vice- presidente da república. Seu feito mais decantado ab hoc et ab hac: ter lutado contra um câncer por quinze anos! E o fez nos melhores hospitais do mundo, com os mais renomados médicos e com os equipamentos mais sofisticados.
José Alencar é apresentado como herói nacional, amante da vida e exemplo para os brasileiros. Como empresário-candidato, reuniu pessoas endinheiradas ao redor do então candidato Lula, para mostrar que o famigerado petista estava mudado. Era “Lulinha paz e amor”. Durante oito anos na vice-presidência, Alencar foi, conforme a liturgia do poder, a voz teatral do governo contra os altos juros no Brasil.
Zé da Silva também luta contra o câncer nos hospitais públicos do Brasil. Homem sem rosto e sem poder, Zé da Silva acorda cedo, de madrugada, para encontrar vaga na ambulância da prefeitura. Sua luta é grande e sofrida. Viaja centenas de quilômetros, sem conforto e, ainda assim, dá graças a Deus por isso. Seu tratamento não vai durar quinze anos, como o do outro José. Sua morte não vai sair nos jornais, nem na TV. Só os amigos e vizinhos vão comentar durante uns dias.
Zés da Silva choraram o José que nasceu pobre e se tornou, honestamente, um grande empresário brasileiro e latino-americano. Em 1950 ele tinha apenas uma pequena loja de tecidos (A Queimadeira) em Caratinga, Minas Gerais. Três décadas depois já possuía um grande império, com milhares de empregados. Bravo José! Entrou na política aos 62 anos para fazer algo por Minas e pelo Brasil. Elegeu-se senador em 1998, pelo PMDB. Foi para o PL e, depois, para o PRB. Em 2002 e em 2006 foi o vitorioso vice de Lula. Completaria 80 anos em 17 de outubro. Deixou esposa, filhos e netos.R.I.P (Ismar Dias de Matos, sacerdote diocesano, professor de Filosofia e Cultura Religiosa na PUC Minas: p.ismar@pucminas.br)