É bastante conhecido o discurso de Tancredo Neves, no qual disse que “o primeiro compromisso de Minas é com a liberdade”, compromisso já expresso no lema da bandeira de nosso Estado: Libertas quae sera tamen, palavras retiradas pelos latinistas da Inconfidência Mineira de um verso da primeira das dez Éclogas do poeta romano Virgílio (70 a.C – 19 a.C): Et quae tanta fuit Romam tibi causa videnti ?/Libertas, quae sera tamen, respexit inertem,/Candidior postquam tondenti barba cadebat...(E qual foi o forte motivo para visitares Roma?/A liberdade, que, embora tardia, teve pena de mim, quando, fazendo a barba, esta já caía mais branca...
Toda criança mineira aprende que a tradução do dístico da bandeira é “liberdade ainda que tardia”, mas o que nem todos sabem é que essas palavras foram recortadas de um diálogo entre o pastor Títiro e seu companheiro Melibeu.
O velho Melibeu está a dizer que, mesmo quando os cabelos já estão embranquecidos e a velhice se aproxima, nunca é tarde para viver a liberdade, desde que ela tenha sido fruto de uma conquista.
Essa conquista aparece no poema “Pátria minha”, no qual Vinícius de Moraes escreveu: “Mais do que a mais garrida a minha pátria tem / uma quentura, um querer bem, um bem / um libertas quae sera tamen / que um dia traduzi num exame escrito: / ‘Liberta que serás também’/ E repito” (cf. Vinícius de Moraes, Editora Abril, 1980, p. 46, coleção Literatura Comentada).
Podemos dizer que Vinícius traduziu o pensamento dos Inconfidentes, o de que a liberdade verdadeira é sempre promotora de liberdade; e que ela não é um fim em si, mas condição para uma vida plenamente humana.
Ismar Dias de Matos, Professor de Filosofia e Cultura Religiosa na PUC-Minas. E-mail: prof.ismar@ismardiasdematos.com.br
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