Pentecostes não é, inicialmente, uma festa cristã, mas judaica, celebrada desde os tempos de Moisés, cerca de 1250 anos antes de Cristo. Jesus e seus discípulos celebraram-na dezenas de vezes. Os judeus dão a ela vários nomes: Festa de Shavuót, ou Festa das Semanas, pois ela acontece sete semanas após o Êxodo, ou saída do Egito; Festa da Colheita, numa referência ao fato de que neste dia festivo é recolhido o trigo que é ofertado a Deus; Festa da Entrega da Torá, pois segundo a tradição judaica foi neste dia festivo que Deus se revelou a Moisés e lhe ditou os Dez Mandamentos, que foram gravados em tábuas de pedra e colocados em exposição para todo o povo; Festa dos Cinquenta Dias, e corresponde às sete semanas mais um dia, que é o tempo que os judeus gastaram do Egito ao Monte Sinai, onde aconteceu a primeira e grande revelação de Deus a seu povo escolhido. É com esse nome de “Cinquenta dias”, ou Pentecostes, que a festa é lembrada no livro dos Atos dos Apóstolos (2, 1-11), do Segundo Testamento de nossa Bíblia.
Durante a Festa de Pentecostes, os judeus ainda têm o costume de subir a Jerusalém, a Cidade Santa, para visitar e lembrar a peregrinação que era feita durante o período em que havia os Templos: o primeiro Templo, que foi destruído em 586, a.C, e o segundo, destruído no ano 70 da nossa era. É costume visitar os Kibutzim, sobretudo as fazendas produtoras de leite e de trigo. A palavra “leite”, em hebraico, tem o valor numérico de “40” e, segundo os sábios judeus, faz referência aos 40 dias que Moisés ficou no topo do Sinai, em oração, à espera da Lei ou dos Dez Mandamentos, que também são chamados de as “Dez Proclamações”. Esses Mandamentos ou Proclamações são como que a Constituição do Povo de Deus, pois ao redor deles gravitam outros 603 mandamentos, totalizando os 613 mandamentos da Torá ou Pentateuco, que são os cinco primeiros livros da Bíblia.
Os Mandamentos revelados no Sinai têm importância secundária na história do povo judeu. O mais importante foi, na verdade, a revelação do próprio Deus a seu povo, que agora não precisa chamar a Deus de “Deus de Abraão, de Isaac e de Jacó”; Deus se revelou a cada pessoa que se encontrava ao pé do Monte Sinai, e assim se revelou: “Eu sou o Eterno, teu Deus, que te tirei da terra do Egito, da casa dos escravos.” (Ex 20, 2).
O Midrash, livro da tradição judaica, conta que no momento dessa revelação nenhum pássaro cantou, nenhuma ave voou, nenhum boi mugiu, nenhum anjo desceu; o mar não ondulou e nenhuma criatura emitiu som algum. Todo o Universo apenas ouviu e emudeceu. Foi naquele momento que a voz do Eterno se fez ouvir. Após a revelação houve trovões, raios, o alto toque do shofar, o povo foi tomado de um grande medo. O Monte fumegava, como se fosse um vulcão em erupção. Era Deus, mais uma vez, manifestando-se no fogo, numa hierofania, como lemos em Êxodo 3, 1-6: episódio da sarça ardente.
O Pentecostes cristão nos diz que os Apóstolos de Jesus estavam reunidos no Cenáculo, agora o novo Sinai. De repente, veio do céu uma grande ventania e encheu a casa onde se encontravam. E línguas de fogo pousaram sobre cada um dos Apóstolos, e eles ficaram repletos do Espírito Santo, o mesmo Espírito que tomou conta de Moisés; e os Apóstolos começaram a falar línguas conforme o Espírito os inspirava. Os estrangeiros, de mais de doze nações diferentes, que estavam em Jerusalém para a festa de Pentecostes, independentemente da nação a que pertenciam, ouviam os Apóstolos falando em sua própria língua. O Espírito Santo inaugurava a Igreja; naquele dia memorável, em Jerusalém, a Igreja de Cristo nascia, batizada pelo fogo de Pentecostes, pelo fogo novo do Espírito Santo. Comumente, Pentecostes é a Festa do Divino Espírito Santo, ou simplesmente Festa do Divino, celebrada no próximo dia 24 de maio.
Inspirados no tema da Campanha da Fraternidade (CF), podemos dizer que a língua universal falada pelos Apóstolos e pela Igreja, é o SERVIÇO: “Eu vim para servir” (Mc 10, 45). O serviço, palavra que figura dezenas de vezes no texto-base da CF, é a tradução de AMOR. E Deus é Amor (1 Jo 4, 8). Pentecostes é a festa de Deus que se fez fogo, que se fez amor... por nós!
Ismar Dias de Matos, professor de Filosofia e Cultura Religiosa na PUC Minas
E-mail: p.ismar@pucminas.br
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